O sabor da Itália no Oeste do Paraná: la storia del castelletto e da família Dal Pozzo
- Joysse Bevilaqua
- 24 de jun.
- 5 min de leitura
No coração de Matelândia, o legado da imigração italiana é contado por sabores, memórias e tradições

No meio de tanta diversidade cultural no Brasil, um legado é conhecido por sua culinária apetitosa. Os italianos deixaram sua marca em vários espaços, como a música, a arquitetura, a língua e as tradições religiosas, principalmente no Sul do país. Mas, é na comida que essa influência se mostra de forma mais apaixonada. Um exemplo dessa paixão é o restaurante "Castelletto", um lugar que simboliza não só a culinária italiana, mas também a história de uma família que cruzou o oceano em busca de um novo começo.
A origem dessa trajetória começa nas montanhas de Asiago, no norte da Itália, em um vilarejo chamado Castelletto di Rotzo. Foi lá que viveu Nicolo Dal Pozzo, o patriarca de uma família que, como muitas outras, no fim do século XIX, resolveu deixar sua terra natal em busca de uma vida melhor. Chegou ao Brasil em 1958 e se instalou em Paraí, no Rio Grande do Sul, uma região com forte presença da cultura italiana.
Em 1958, com as bagagens carregadas de sonhos e coragem, Aurélio seguiu caminho até o Oeste do Paraná, acompanhado de sua esposa e dos filhos ainda pequenos. Naquele tempo, a região era quase um mundo desconhecido para a família, tomada por matas e estradas difíceis de se percorrer. Mas, para os Dal Pozzo, aquilo era solo fértil para o futuro.
Não tinha luxo algum, apenas trabalho, o suficiente para adquirir um pedaço de terra para dar início a construção de um sonho. A ideia de erguer um castelo surgiu tempos antes, pelo seu pai. O terreno foi investido em 1975 perto as margens da BR- 277, e a primeira construção foi um chalé de madeira onde vendiam saladas de frutas. Com o passar do tempo, a localização passou a atrair muitos visitantes, e o negócio foi crescendo.

Foi então que ele teve a ideia de expandir o local,
“Meu pai, que não era nenhum arquiteto nem engenheiro, mas era um bom desenhista, pediu ajuda a um jovem da cidade, que era um gênio do desenho”
Sugeriu então, a possibilidade de construção de um castelo. Aurélio aceitou de pressa a ideia. Naquela época, ele já havia escolhido algumas pedras, que viriam da sua cidade natal no Rio Grande do Sul, com o desejo de usá-las na construção.
Com pouca experiência e recursos limitados, o projeto foi realizado com alguns imprevistos. “
Meu pai trouxe um pedreiro e, com a ajuda de um assistente, começaram a trabalhar nas pedras”, explica o senhor Claudio Dal Pozzo, filho de Aurélio.
Ambos não sabiam como lidar com aquele material, mas não foi esse motivo que fez a obra parar. A primeira versão do castelo era muito pequena, mas, ao longo de dois anos de trabalho incansáveis, a estrutura foi tomando forma. Com o tempo, o castelo foi ampliado radicalmente e se tornando o que é hoje, uma fortaleza comparada ao primeiro projeto improvisado.
Em 1986, Aurélio iniciou a construção, pedra por pedra, de uma obra diferenciada. Feita com blocos de basalto transportados direto de Paraí-RS, sua terra. A casa recordava os casarões antigos da Itália e logo recebeu o nome de ‘Castelinho’.
Alguns anos depois, o nome se modificou, sendo oficialmente mudado para Castelletto.
“Foi uma homenagem que fizemos para a vila de onde tudo começou”, diz o senhor Cláudio, uma história que se iniciou do outro lado do oceano.
Hoje, o Castelletto é muito mais que um restaurante, é um verdadeiro símbolo. É um espaço onde a história de uma família italiana se entrelaça com as trajetórias de muitas outras. Com dedicação e acolhimento, o restaurante oferece um serviço exemplar e consciente, incluindo soluções sustentáveis, como a utilização de placas solares, e trabalhos intensos para proporcionar a melhor experiência aos seus visitantes.
“O ritmo aqui é puxado, trabalhamos quase todos os dias do ano”, revela o atual dono do castelo. “Só fechamos no Natal, no Ano Novo e na Sexta-feira da Paixão. Nos outros dias, a jornada começa às 7h da manhã, com toda a equipe, e só termina por volta das 16h, de vez em quando mais tarde”, complementa Claudio. O total de funcionários é de 25 pessoas envolvidas, “eu, meu filho e minha filha, todos aprendendo juntos, dia após dia”.
O negócio da família, também é motivo de muitas realizações. Como muitas pessoas frequentam o Castelletto, o retorno esperado era positivo,
“o retorno que temos é incrível. Raramente ouvimos uma crítica, procuramos estar sempre atentos e próximos dos nossos clientes. É gratificante demais”.

Castelletto também é um legado para as próximas gerações. Atualmente, quem visita o local nota que não se serve apenas comida, mas se serve a memória. Um pedaço de uma história que começou nas montanhas da Itália, passou pelas colinas do Rio Grande do Sul e enterrou suas raízes nas terras do Paraná.
“Aprendi com meus pais a trabalhar, e estou tentando ensinar o mesmo aos meus filhos. A responsabilidade, honestidade e a seriedade. A riqueza vem como consequência do esforço. O meu legado é esse, fazer as coisas certas, de coração. Foi assim que aprendi e é isso que deixo para eles”, reflete Cláudio.
Entre os visitantes do Castelletto, encontramos a jornalista Francielli Zandoná, que atua na área há mais de 15 anos e frequenta o restaurante. Em um domingo de dia das mães para aproveitar uma data especial saboreando pratos típicos que remetem às raízes italianas da região.
“É uma experiência diferente, com comidas típicas e saborosas, proporcionando uma vista pelo castelo”, complementa a jornalista.
Ela se recorda da primeira vez que esteve ali, uma ocasião simples, mas marcante. Com comidas deliciosas, um atendimento excepcional e aquela vista do castelo que conquista todos. Para ela, cada visita é uma nova oportunidade de se reconectar com a história e com os sabores que fazem parte da história local.
A cultura italiana no Brasil
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 30 milhões de brasileiros têm algum ascendente italiano. Uma herança que aparece na comida, nos sobrenomes, na música e na forma de viver. No Castelletto tudo isso se mistura em um só lugar, na polenta cremosa, na lasanha e em outras variedades. Com o tempo, imigrantes não apenas prosperaram, mas também destacaram a identidade cultural da região.
O idioma italiano é ainda falado em diversas comunidades, como, por exemplo, na tradição de muitas famílias é costume realizar encontros em volta do fogão para contar histórias, preservada ainda em muitos lares, no idioma estrangeiro. Assim também podemos ouvir o idioma em festas típicas e celebrações religiosas que comemoram os santos padroeiros de vilarejos da Itália.

A Itália está presente na culinária de seus descendentes, carregando o espírito de um povo que teve que improvisar com os ingredientes locais, originando pratos únicos e que transbordam afeto. A polenta, o radicci com bacon, a sopa de capeletti e a fortaia são alguns exemplos conhecidos. Além disso, os italianos também têm como herança o vinho artesanal e o queijo colonial.
Em uma realidade que muda constantemente, lugares como o Castelletto são raros. É um ponto de parada para encontros entre o passado e o presente. É uma lembrança viva de que, mesmo longe, é possível carregar um pedaço de sua história para o Paraná e compartilhá-la com orgulho em cada quadro pendurado e em cada prato servido à beira de uma estrada em Matelândia.
👏👏
O Restaurante italiano que vem no castelinho é muito bom, desde o alimento, atendimento e o local, sempre que da passamos por la, parabéns pelo exelente texto e por contar esta historia.
Foi incrível ouvir e escrever essa história! ❤️