Futuro do trabalho não pode excluir quem sente
- Emily Scheibe
- 24 de jun.
- 3 min de leitura

A inteligência artificial (IA) tem se consolidado como uma das mais significativas inovações tecnológicas do século XXI, transformando diversos setores da economia e da sociedade. No mercado de trabalho, sua presença é cada vez mais notável, suscitando debates sobre os impactos na produtividade, na empregabilidade e na própria natureza das relações laborais. É fundamental, portanto, analisar criticamente o papel da IA, reconhecendo seus benefícios como ferramenta de apoio às atividades humanas, mas também alertando para os riscos de sua aplicação como substituta total da força de trabalho.
Diversos estudos demonstram que a IA, quando utilizada para complementar as atividades humanas, pode gerar ganhos significativos de produtividade. Segundo pesquisa da Freshworks, o uso de ferramentas de inteligência artificial no ambiente de trabalho pode economizar até 3 horas e 47 minutos por semana - o equivalente a 24 dias úteis por ano. As principais tarefas beneficiadas incluem a criação de conteúdo, a análise de dados e a tradução de textos e áudios.
Além disso, o relatório anual do Índice de Tendências de Trabalho de 2024, elaborado pela Microsoft em parceria com o LinkedIn, revelou que 92% dos funcionários relataram melhorias na gestão do trabalho com o uso de IA, destacando o aumento da produtividade e a melhor organização das tarefas.
No Brasil, um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) indica que a adoção da IA pode aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) em até 8% e a produtividade total dos fatores em até 4% nos próximos anos - especialmente, quando há complementaridade entre tecnologia e trabalhadores.
Apesar dos avanços tecnológicos, a presença humana continua sendo essencial em diversas atividades. A pesquisa da Freshworks mostrou que 69% dos profissionais se sentem mais seguros ao utilizar a IA quando existe a obrigatoriedade de revisão humana nos resultados. A mesma porcentagem acredita que a IA jamais será capaz de substituir completamente os trabalhadores humanos.
Essa percepção é reforçada por dados do Relatório Global de IA no Local de Trabalho 2024, que enfatizam a necessidade da revisão humana para garantir a qualidade das entregas e a personalização dos resultados.
Embora a IA traga benefícios quando utilizada como ferramenta de apoio, sua aplicação como substituta total da força de trabalho apresenta riscos significativos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que cerca de 40% dos empregos no mundo serão impactados pela IA, sendo que, em economias desenvolvidas, esse percentual pode chegar a 60%. Em alguns casos, a IA poderá executar tarefas essenciais atualmente desempenhadas por seres humanos, reduzindo a demanda por mão de obra e afetando salários e contratações.
Na América Latina e no Caribe, um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Banco Mundial aponta que entre 26% e 38% dos empregos podem ser influenciados pela IA generativa. No entanto, apenas entre 2% e 5% correm o risco de substituição total, o que reforça a importância de políticas públicas que promovam a inclusão digital e a capacitação profissional.
Ademais, a substituição indiscriminada de trabalhadores por IA pode agravar desigualdades sociais e econômicas, especialmente em países com infraestrutura digital precária e altos índices de informalidade no mercado de trabalho.
A inteligência artificial representa uma oportunidade única de transformar positivamente o mercado de trabalho - desde que sua implementação seja orientada por princípios éticos e pela valorização do ser humano. É fundamental que empresas, governos e sociedade civil atuem de forma conjunta para promover a capacitação profissional, a inclusão digital e a criação de ambientes de trabalho que integrem a tecnologia de maneira responsável.
A IA deve ser vista como uma aliada na busca por maior eficiência e produtividade - mas jamais como substituta da criatividade, da empatia e do julgamento humano. Somente assim será possível construir um cenário profissional mais inclusivo, sustentável e verdadeiramente humano.
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Parabéns pelo texto