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Nada afunda o “Flow”

O aumento das animações independentes em grandes premiações e produções cada vez mais extraordinárias


Cena do filme “Flow” quando a tripulação navega entre as ruínas de uma cidade antiga | Foto: Reprodução/UFO Distribution
Cena do filme “Flow” quando a tripulação navega entre as ruínas de uma cidade antiga | Foto: Reprodução/UFO Distribution

Vencedor do Oscar de Melhor Animação deste ano, Flow arrecadou 36 milhões de dólares em bilheteria mundial, levando milhares de entusiastas às salas de cinema para assistir ao “filme do gatinho preto”. Sem uma única linha de diálogo do início ao fim, a obra captura o olhar de pessoas de todas as idades, resgatando a nostalgia de quando falávamos com os personagens dos desenhos matinais na TV, tentando alertá-los sobre os perigos que se aproximavam.


Na narrativa, acompanhamos a jornada de um gato solitário em um mundo pós-apocalíptico, subitamente soterrado por uma imensidão de água. Ao perder seu lar, Flow - nome dado ao protagonista - encontra refúgio em um barco inicialmente habitado por uma capivara. Enquanto enfrentam tempestades e a escassez de comida, os dois acolhem novos companheiros: um lêmure acumulador de tralhas, um labrador hiperativo e uma ave-secretária abandonada pelo bando. Juntos, aprendem a conviver e a colaborar pela sobrevivência do grupo em meio ao caos da enchente.


Cena de navegação do filme, da esquerda para a direita: ave secretária segurando o leme, labrador, capivara, lêmure na vela e Flow na proa | Foto: Reprodução/UFO Distribution
Cena de navegação do filme, da esquerda para a direita: ave secretária segurando o leme, labrador, capivara, lêmure na vela e Flow na proa | Foto: Reprodução/UFO Distribution

Explorando temas como solidariedade, adaptação e sobrevivência, Flow conquistou, além do Oscar, o Globo de Ouro de Melhor Animação e ampla aclamação da crítica - 96% de aprovação no Rotten Tomatoes e 94% de aprovação do público. Mais do que arrancar lágrimas, o filme ainda teve impacto fora das telas: aumentou a taxa de adoção de gatos pretos, antes marginalizados por superstições. Hoje, quem não quer um gato preto para chamar de Flow?


Pelo segundo ano consecutivo, a categoria de Melhor Animação tem despertado debates entre os amantes da sétima arte. Enquanto as demais categorias parecem cada vez mais previsíveis, a animação surpreende - e resiste aos padrões conservadores da Academia. Flow (2024), O Menino e a Garça (2023) e Pinóquio (2022) formam uma tríade de obras internacionais ou independentes que desbancaram produções de grandes estúdios e colocaram em xeque o domínio de Disney, Pixar e DreamWorks.


Em 2023, Pinóquio, de Guillermo del Toro - diretor mexicano em parceria com a Netflix - venceu a estatueta contra Red: Crescer é uma Fera (Pixar) e Gato de Botas 2: O Último Pedido (DreamWorks), superando o preconceito que ainda recai sobre filmes lançados por plataformas de streaming. No ano seguinte, foi a vez de O Menino e a Garça, de Hayao Miyazaki, superar Elementos (Disney) e Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (Marvel). A vitória de Flow sobre títulos como Divertida Mente 2 e Robô Selvagem, ambos da Disney-Pixar, alimenta uma pergunta que já não pode mais ser ignorada: ainda precisamos dos grandes estúdios para contar grandes histórias? Se antes a supremacia de Pixar, Disney e DreamWorks parecia inquestionável, hoje há um novo movimento em curso — um público mais receptivo à diversidade estética, disposto a acolher narrativas mais intimistas, feitas por mãos menos midiáticas, mas igualmente talentosas.


Para além dos prêmios, o impacto cultural de Flow se manifestou até fora das telas. Em diversos países, abrigos de animais relataram aumento na adoção de gatos pretos - tradicionalmente estigmatizados por crenças populares - após o lançamento do filme. O “gatinho preto” virou símbolo de acolhimento, resistência e afeto silencioso. Uma metáfora viva da própria essência do filme: nada nele é gritado, mas tudo reverbera.


Flow é uma obra rara: acessível e sofisticada, silenciosa, artesanal e universal. Sua vitória não é um prêmio para uma animação - é um manifesto artístico contra o ruído excessivo, contra o automatismo das fórmulas e contra a ideia de que só o que é grande em escala pode ser grande em impacto. Em um mundo cada vez mais barulhento, Flow nos lembra do poder do silêncio. E, sobretudo, do valor de escutar com o coração.


Cartaz do filme. Foto: reprodução / UFO Distribution.
Cartaz do filme. Foto: reprodução / UFO Distribution.

Flow ganhou o coração do público e ultrapassou as produtoras que, anteriormente, levavam para casa “só mais um prêmio” enquanto a estatueta de Melhor Animação de 2025 está em exibição no Museu Nacional de Arte da Letônia, localizada em um pedacinho de terra no norte da Europa.


Por fim, é perceptível que nos próximos anos, o grupo de produtores da Disney, Pixar e Marvel, e até a DreamWorks, idealizem com mais cautela seus projetos antes de concorrer com obras produzidas fora do território americano, porque no horizonte é possível enxergar um barco cheio de novas obras prontas para conquistar as estatuetas. 






5 Comments


Parabéns pelo texto Vini. O filme é incrível.

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Parabéns pelo texto!

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Merecedor de um Oscar!

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👏🏻👏🏻👏🏻

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Me deu vontade de assistir ao filme!

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Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

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