Abasmavel: o time que representa Cascavel em quadra e na vida
- Willian Ricarte de Oliveira
- 18 de mai.
- 5 min de leitura
Atualizado: 23 de mai.
Projeto criado em 2013 revela talentos, constrói cidadãos e transforma o basquete em ferramenta de inclusão

O basquete nasceu em 1891, nos Estados Unidos da América (EUA), pelas mãos do professor de Educação Física, James Naismith, um canadense da Associação Cristã de Moços. À época, ele buscava alternativas para manter seus alunos ativos durante o inverno rigoroso da cidade de Springfield. A inspiração veio ao observar alunos e funcionários arremessando objetos nos cestos de lixo - assim surgiu a ideia de um jogo com arremessos a alvos elevados.
No início, usavam-se cestos de pêssego fixados a 3,05 metros de altura - medida que permanece até hoje. Os cestos tinham fundo, o que exigia interrupção do jogo a cada ponto. Com o tempo, o fundo foi retirado, permitindo a continuidade da partida. Das 13 regras iniciais estabelecidas por Naismith, muitas seguem em vigor até os dias atuais.
A primeira partida oficial da história foi disputada em 21 de dezembro de 1891. Teve dois tempos de 15 minutos e contou com nove jogadores em cada equipe. O esporte foi apresentado como modalidade de demonstração nos Jogos Olímpicos de 1904, em Saint Louis, nos Estados Unidos, mas sua inclusão oficial ocorreu apenas em 1936, em Berlim, na Alemanha.
A instituição responsável por regulamentar o basquete mundialmente é a Federação Internacional de Basquetebol (FIBA), fundada em 1932, com sede em Mies, na Suíça. Nos Estados Unidos, o esporte passou a ser símbolo de luta por igualdade racial, revelando ídolos da comunidade negra como Kareem Abdul-Jabbar, Bill Russell, Wilt Chamberlain, Magic Johnson, Kobe Bryant, LeBron James e Michael Jordan - este último, considerado o maior de todos os tempos.

O nascimento de uma equipe em Cascavel
Foi em 2013 que o professor Pedro de Almeida Souza, conhecido como Pedrão, fundou a Associação de Basquetebol Masculino de Cascavel (Abasmavel). A iniciativa surgiu do desejo de formar uma equipe estruturada na cidade e expandir o acesso ao esporte para crianças, adolescentes e adultos.
O projeto funciona em um ginásio localizado na região do Lago Municipal, dentro da área militar da cidade. Hoje, conta com 145 atletas, distribuídos desde o sub-9 até a equipe adulta. Além dos treinos, os times participam de campeonatos estaduais e nacionais, representando Cascavel com orgulho e dedicação.
“A equipe sub-17 é formada por atletas vindos das nossas escolinhas. O maior desafio é fazer com que eles queiram estar na quadra. Em tempos de tecnologia e redes sociais, manter adolescentes focados no esporte não é tarefa fácil”, explica Pedro.
A equipe adulta é composta por 15 jogadores, todos com passagens pelas categorias de base. Eles treinam duas vezes por semana e disputam competições como a Taça Paraná e os Jogos Abertos. Já as categorias de base treinam diariamente e participam de torneios de alto nível, sendo destaque nas disputas estaduais e nacionais.
A trajetória de Pedrão

Natural de Ubiratã, no interior do Paraná, Pedro começou a jogar basquete ainda na sétima série. Apaixonou-se pelo esporte e seguiu jogando até a adolescência. Depois, tornou-se treinador em sua cidade natal. Iniciou com trabalhos voluntários, treinando equipes infantis, até ser convidado a comandar o time juvenil do município.
Em 2006, recebeu o convite para trabalhar em Cascavel, no Colégio Fundação Assis Gurgacz, onde iniciou o trabalho com escolinhas de basquete. De lá pra cá, já são quase 20 anos dedicados ao esporte, com foco no desenvolvimento de atletas dentro e fora das quadras.
“Formar jogadores é importante, mas formar pessoas é ainda mais. O esporte ensina valores essenciais: respeito, disciplina, coletividade, resiliência. Ganha-se e perde-se em quadra, mas o que se leva para a vida é o aprendizado. Isso vale mais do que qualquer troféu”, afirma Pedrão.
Histórias que inspiram

Entre os atletas da Abasmavel, há histórias que atravessam gerações. É o caso de Alisson Guimarães, de 47 anos, um dos jogadores mais experientes da equipe. Nascido em Araraquara (SP), ele começou no esporte aos 11 anos. Já praticou futebol, natação e atletismo, mas foi no basquete que se encontrou. Aos 13, passou a treinar oficialmente, integrando a divisão de base do time de sua cidade natal.
“Comecei a me apaixonar de verdade quando vi a seleção brasileira vencer os Estados Unidos no Pan-Americano de 1987, com Oscar Schmidt, Marcel, e companhia. A narração do Luciano do Valle, na Bandeirantes, ficou na minha memória. Desde então, nunca mais deixei de acompanhar o basquete”, recorda.
Em quadra, sua posição é a de armador: cabe a ele organizar o jogo, distribuir as jogadas e fazer a bola chegar aos companheiros de equipe. Para manter o condicionamento físico, Alisson segue uma rotina disciplinada. “A gente que tem mais idade precisa se preparar durante a semana. Alimentação adequada, descanso, evitar bebidas alcoólicas e estar concentrado para executar bem o que foi treinado”.
Da cidade do basquete para a capital do Oeste

Outro nome que representa bem a força do projeto é Riandro Batista Alves, natural de Bauru (SP), cidade com forte tradição no basquete. Começou a jogar aos 12 anos no Time da Luz, equipe reconhecida da região. Aos 13, a família se mudou para Cascavel após seu pai receber uma proposta de trabalho. Foi a mãe quem procurou uma equipe de basquete para que o filho seguisse no esporte.
Em sua nova cidade, Riandro ingressou no Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira, onde conheceu o professor Pedro. Participou das aulas de basquete no contraturno escolar e, após um tempo afastado das quadras, retomou os treinos aos 16 anos. Pedro o convidou para integrar a equipe sub-17 da Abasmavel. Desde então, o jovem participou de campeonatos estaduais em 2023 e 2024, representando a cidade em alto nível.
Atualmente, cursa Educação Física no Centro Universitário FAG, inspirado pela vivência no esporte.
“Sempre fui incentivado pela minha família. Eles reconhecem o quanto o basquete me ajudou a crescer como pessoa e a encontrar meu caminho”.
A especialidade de Riandro são os arremessos de três pontos. “Vou dar o exemplo de quando fomos jogar em Marechal. A gente se encontra na frente do Ciro Nardi, entra na van, coloca uma música, e um começa a brincar: ‘Hoje eu vou fazer 30 pontos’, ‘vou acertar cinco bolas de três’. É uma forma de mentalizar o jogo. Já na quadra, todo mundo se incentiva, vibra. E depois, vem a reflexão: o que deu certo? O que posso melhorar?”, conta.
Um time que joga com o coração
Mais do que títulos e vitórias, a Abasmavel é um projeto que pulsa esperança. A cada cesta, há um grito coletivo; a cada jogo, uma nova chance de representar com orgulho a cidade de Cascavel. O esporte, aqui, é instrumento de transformação na quadra e na vida.
A paixão é visível nas arquibancadas, nas vozes que ecoam em apoio, no brilho nos olhos de quem sonha em seguir os passos de seus ídolos. É isso que move a Abasmavel: uma equipe que joga com o corpo, com a mente e, acima de tudo, com o coração.
Muito lefal, Willian!!
Willian, seu texto é daqueles que transpiram paixão e comprometimento. A forma como você costura o contexto histórico do basquete com a força do projeto local é admirável - e mais do que isso, necessária. Parabéns por dar visibilidade a histórias que inspiram e por mostrar que, com dedicação e acolhimento, o esporte pode transformar vidas. Continue escrevendo com esse olhar atento e sensível.
Parabéns pelo o texto!
Parabéns pelo texto Willian.
Muito bom!