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Música brasileira: sem qualidade ou escondida em nichos desvalorizados?

Atualizado: há 3 dias

A popularização de gêneros como o sertanejo e o funk é um dos muitos motivos pelos quais internautas criticam e questionam a falta de originalidade entre os músicos brasileiros


A qualidade da música brasileira é questionada há muito tempo, seja por sua originalidade, seja por sua execução propriamente dita. Artistas consolidados como Anitta, Luísa Sonza e Pabllo Vittar são frequentemente criticados por seus trabalhos — muitas vezes pelas letras consideradas fracas, composições sem graça e arranjos repetitivos.

A cantora Anitta melhorou sua recepção entre o público geral com seu último álbum, Funk Generation, que de fato apresentou uma produção cuidadosa e uma contextualização conceitual bem definida. Por isso, foi aclamado tanto pela crítica quanto pelos fãs. No entanto, seu trabalho anterior, Versions of Me, não teve o mesmo retorno. Com 15 faixas, o álbum parece mais uma colagem de estilos musicais soltos, com colaborações inéditas, mas canções insossas que acabam fazendo o disco soar como uma playlist aleatória. Até que ponto a música brasileira se resume a isso?

A ascensão da mineira Marina Sena foi um ponto de virada nesse debate. Seu sucesso nos leva a repensar se, de fato, a música brasileira é preguiçosa — ou se estamos apenas procurando nos lugares errados. O último álbum da artista, Coisas Naturais, é prova de que a resposta pode estar nos nichos pouco valorizados. Com letras que tratam de amor, sexo, amizade e inseguranças de forma poética, Marina nos convida a mergulhar em seu universo íntimo e fantástico. Destaques como “Mágico”, “Lua Cheia” e “Ouro de Tolo” reforçam a força estética e narrativa do disco.


Marina Sena se apresentando no Lollapalooza | Foto: Pinterest
Marina Sena se apresentando no Lollapalooza | Foto: Pinterest

Outro nome relevante é o da pernambucana Duda Beat, que redefine o conceito de música popular brasileira com batidas eletrônicas e psicodélicas, lembrando referências como Justice, Autechre e Lady Gaga. Seu mais recente álbum, Tara e Tal, é uma verdadeira experiência sonora, transitando do phonk ao noise music, misturados a elementos de samba e pagode. Vale menção especial à capa do disco - uma composição visual assinada por Marcelo Jarosz - e às faixas “q prazer”, “Saudades de você” e “Desapaixonar”, cujas letras abordam sexo e decepções amorosas com uma sensibilidade quase cifrada.


Desde seu primeiro disco, Duda Beat mantém a imagem de diva pop futurista | Foto: Pinterest
Desde seu primeiro disco, Duda Beat mantém a imagem de diva pop futurista | Foto: Pinterest

A artista trans Urias também tem ganhado destaque pela originalidade de seus trabalhos e pela estética marcante que remete a seres extraterrestres e mundos distópicos. Seu álbum visual Her Mind combina português, inglês, espanhol e até trechos em francês, compondo uma narrativa dividida em três partes. As capas dos EPs foram inspiradas em estudos sobre o cérebro e identidade de gênero, remetendo à vivência de pessoas trans e não binárias. Entre os destaques estão “Magnata” e “Neo Thang”, que abordam temas como sexualidade, preconceito e questões LGBTQIA+ com potência e ousadia.


Urias é conhecida por seus conceitos exuberantes e sua estética intensa | Foto: Pinterest
Urias é conhecida por seus conceitos exuberantes e sua estética intensa | Foto: Pinterest

Outros nomes vêm se destacando com trabalhos inovadores e sensíveis. A paulista Liniker entregou uma experiência auditiva memorável com o álbum Caju, no qual expõe sua vulnerabilidade e o desejo de viver um amor partilhado, especialmente nas faixas “Veludo Marrom” e “Me Ajude a Salvar os Domingos”. Já o rapper carioca BK’ surpreendeu com o álbum Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer, que mescla beats modernos com participações de ícones da música brasileira como Evinha, Djavan, Milton Nascimento e Fat Family.


Liniker é reconhecida por sua imagem forte e por suas letras inspiradoras | Foto: Pinterest
Liniker é reconhecida por sua imagem forte e por suas letras inspiradoras | Foto: Pinterest

Esses artistas inovam e se reinventam todos os dias, mostrando que a música brasileira vai muito além do funk, do sertanejo ou da bossa nova. Eles provam que qualidade e criatividade não são exclusividades da indústria estadunidense, e que o verdadeiro diferencial está na vontade de contar histórias com arte e paixão.


O nome real de BK’ é Abebe Bikila Costa Santos, de origem etíope | Foto: Pinterest
O nome real de BK’ é Abebe Bikila Costa Santos, de origem etíope | Foto: Pinterest

Trabalhos de peso exigem tempo e dedicação para oferecer algo que realmente valha a pena ao ouvinte. A lógica do consumo rápido - impulsionada pelo capitalismo e por redes como o TikTok - tem levado à criação de músicas mais curtas, repetitivas e excessivamente comerciais.

A indústria parece cada vez menos interessada em talento e carisma, e mais preocupada com métricas e monetização.

É verdade que há grandes investimentos por trás de álbuns como Escândalo Íntimo, de Luísa Sonza, e Batidão Tropical, de Pabllo Vittar. No entanto, o que diferencia esses lançamentos dos trabalhos de artistas “underground” é, muitas vezes, o propósito.

Enquanto uns priorizam a rentabilidade, outros seguem movidos pelo amor à arte - produzindo, mesmo com menos verba, músicas capazes de emocionar, inspirar e proporcionar verdadeiras experiências sensoriais.


10 comentários


Tenho gostado cada vez mais das músicas da Marina, e acredito que é mesmo pelo que você abordou, pelo propósito!

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Kariny Camilo
Kariny Camilo
há um dia

Parabéns pelo texto Luis!

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De todos os citados, sou muito fã!

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Parabéns pelo texto Luis!!

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Não conhecia alguns dos artistas citados, muito legal, vou tentar ampliar meu repertório!

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Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

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