Música brasileira: sem qualidade ou escondida em nichos desvalorizados?
- Luís Figueiredo
- há 4 dias
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Atualizado: há 3 dias
A popularização de gêneros como o sertanejo e o funk é um dos muitos motivos pelos quais internautas criticam e questionam a falta de originalidade entre os músicos brasileiros
A qualidade da música brasileira é questionada há muito tempo, seja por sua originalidade, seja por sua execução propriamente dita. Artistas consolidados como Anitta, Luísa Sonza e Pabllo Vittar são frequentemente criticados por seus trabalhos — muitas vezes pelas letras consideradas fracas, composições sem graça e arranjos repetitivos.
A cantora Anitta melhorou sua recepção entre o público geral com seu último álbum, Funk Generation, que de fato apresentou uma produção cuidadosa e uma contextualização conceitual bem definida. Por isso, foi aclamado tanto pela crítica quanto pelos fãs. No entanto, seu trabalho anterior, Versions of Me, não teve o mesmo retorno. Com 15 faixas, o álbum parece mais uma colagem de estilos musicais soltos, com colaborações inéditas, mas canções insossas que acabam fazendo o disco soar como uma playlist aleatória. Até que ponto a música brasileira se resume a isso?
A ascensão da mineira Marina Sena foi um ponto de virada nesse debate. Seu sucesso nos leva a repensar se, de fato, a música brasileira é preguiçosa — ou se estamos apenas procurando nos lugares errados. O último álbum da artista, Coisas Naturais, é prova de que a resposta pode estar nos nichos pouco valorizados. Com letras que tratam de amor, sexo, amizade e inseguranças de forma poética, Marina nos convida a mergulhar em seu universo íntimo e fantástico. Destaques como “Mágico”, “Lua Cheia” e “Ouro de Tolo” reforçam a força estética e narrativa do disco.

Outro nome relevante é o da pernambucana Duda Beat, que redefine o conceito de música popular brasileira com batidas eletrônicas e psicodélicas, lembrando referências como Justice, Autechre e Lady Gaga. Seu mais recente álbum, Tara e Tal, é uma verdadeira experiência sonora, transitando do phonk ao noise music, misturados a elementos de samba e pagode. Vale menção especial à capa do disco - uma composição visual assinada por Marcelo Jarosz - e às faixas “q prazer”, “Saudades de você” e “Desapaixonar”, cujas letras abordam sexo e decepções amorosas com uma sensibilidade quase cifrada.

A artista trans Urias também tem ganhado destaque pela originalidade de seus trabalhos e pela estética marcante que remete a seres extraterrestres e mundos distópicos. Seu álbum visual Her Mind combina português, inglês, espanhol e até trechos em francês, compondo uma narrativa dividida em três partes. As capas dos EPs foram inspiradas em estudos sobre o cérebro e identidade de gênero, remetendo à vivência de pessoas trans e não binárias. Entre os destaques estão “Magnata” e “Neo Thang”, que abordam temas como sexualidade, preconceito e questões LGBTQIA+ com potência e ousadia.

Outros nomes vêm se destacando com trabalhos inovadores e sensíveis. A paulista Liniker entregou uma experiência auditiva memorável com o álbum Caju, no qual expõe sua vulnerabilidade e o desejo de viver um amor partilhado, especialmente nas faixas “Veludo Marrom” e “Me Ajude a Salvar os Domingos”. Já o rapper carioca BK’ surpreendeu com o álbum Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer, que mescla beats modernos com participações de ícones da música brasileira como Evinha, Djavan, Milton Nascimento e Fat Family.

Esses artistas inovam e se reinventam todos os dias, mostrando que a música brasileira vai muito além do funk, do sertanejo ou da bossa nova. Eles provam que qualidade e criatividade não são exclusividades da indústria estadunidense, e que o verdadeiro diferencial está na vontade de contar histórias com arte e paixão.

Trabalhos de peso exigem tempo e dedicação para oferecer algo que realmente valha a pena ao ouvinte. A lógica do consumo rápido - impulsionada pelo capitalismo e por redes como o TikTok - tem levado à criação de músicas mais curtas, repetitivas e excessivamente comerciais.
A indústria parece cada vez menos interessada em talento e carisma, e mais preocupada com métricas e monetização.
É verdade que há grandes investimentos por trás de álbuns como Escândalo Íntimo, de Luísa Sonza, e Batidão Tropical, de Pabllo Vittar. No entanto, o que diferencia esses lançamentos dos trabalhos de artistas “underground” é, muitas vezes, o propósito.
Enquanto uns priorizam a rentabilidade, outros seguem movidos pelo amor à arte - produzindo, mesmo com menos verba, músicas capazes de emocionar, inspirar e proporcionar verdadeiras experiências sensoriais.
Tenho gostado cada vez mais das músicas da Marina, e acredito que é mesmo pelo que você abordou, pelo propósito!
Parabéns pelo texto Luis!
De todos os citados, sou muito fã!
Parabéns pelo texto Luis!!
Não conhecia alguns dos artistas citados, muito legal, vou tentar ampliar meu repertório!