Muito além do prato: como a alimentação infantil nutre o corpo e a mente
- Ana Cláudia Teodoroski
- há 6 dias
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Atualizado: há 1 dia
Alimentação infantil envolve mais do que nutrientes; é um caminho para a construção de hábitos e desenvolvimento saudável desde os primeiros anos

Imagine um cenário onde uma refeição vai muito além de somente nutrir o corpo, servindo de alimento para a mente e o coração. Nesse contexto, cada alimento tem uma história, cada refeição pode ser um ritual e cada sabor, uma memória em construção. Porque alimentar não é apenas oferecer comida, mas também afeto, ensinamento e tempo compartilhado.
A alimentação não é só sobre o prato - ela molda os hábitos alimentares, os comportamentos e a forma de enxergar o mundo de uma vida toda. Em Cascavel, as nutricionistas e psicólogas estão procurando novas abordagens para ajudar as famílias. Afinal, segundo o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) 2023, do Ministério da Saúde, foi indicado que, a cada 7 crianças brasileiras, 1 está com excesso de peso ou obesidade.
Introdução Alimentar
Os métodos de introdução alimentar alternativos estão ganhando espaço. O Baby-Led Weaning (BLW), que significa “desmame guiado pelo bebê”, o método participativo e o Baby-Led Introduction To Solids (BLISS), em português: “introdução aos sólidos guiada pelo bebê”, surgiram como alternativas para as “papinhas”.
A nutricionista infantil Gabriela Sandri, bacharel em Nutrição pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), contou sobre a importância das escolhas saudáveis desde cedo.
“Desde a gestação e durante os primeiros anos de vida, os pais podem influenciar diretamente nas escolhas alimentares da criança. A amamentação nos primeiros meses é fundamental, seguida pela introdução gradual de alimentos saudáveis a partir dos 6 meses, conforme as orientações profissionais. Quanto mais cedo, mais fácil será a criança adotar esses hábitos para a vida toda”.

Diferentes métodos de introdução alimentar permitem à criança explorar texturas e sabores. O BLW propõe que o bebê conduza o processo, promovendo a autonomia. O BLISS é uma variante do BLW, com foco na composição nutricional e na segurança alimentar. O método participativo une o tradicional ao alternativo, combinando papinhas e alimentos sólidos.
A nutricionista infantil Izabela Caroline de Brito, com atuação voltada para introdução alimentar e terapia de alimentos, explica sobre a rejeição alimentar:
“É normal que as crianças rejeitem alimentos saudáveis no início. Tente oferecer o alimento de diferentes formas, como em pedaços, purê ou até em receitas diferentes. Também vale a pena continuar oferecendo o mesmo alimento em outras refeições, sem forçar. Além disso, envolvê-la no preparo das refeições pode despertar a curiosidade e ajudá-la a se sentir mais motivada a experimentar. O segredo é criar uma relação positiva com a comida, sem pressões. Para isso, paciência!”.

Escolhas erradas no início são bem comuns, como oferecer papinhas muito batidas ou não respeitar o ritmo da criança. A mãe da Sofia, de 6 anos, Ana Carolina Teodoroski, 28 anos, comentou sobre as dificuldades de proporcionar uma alimentação saudável na infância.
“O maior desafio é o exemplo. No caso da nossa família, não tínhamos o hábito de boa alimentação, porém precisamos apresentar os alimentos. Nem todos continuaram no gosto da nossa filha, mas, aos poucos, vamos tentando incluir um novo alimento - tudo com respeito, para que não haja um bloqueio com qualquer tipo de alimento”.

O que a criança come influencia diretamente no seu desenvolvimento. A introdução alimentar está significativamente relacionada às suas futuras escolhas, e adaptar esse início a um método que seja possível para os pais e o bebê é essencial. Por isso, a escolha deve ser feita com acompanhamento de um profissional de nutrição e pediatria.
Atividade física e alimentação na infância
A prática de atividades físicas aliada à alimentação é essencial. Antes da pandemia, 73% das crianças brasileiras praticavam atividades; em 2020, esse número caiu para 28%, segundo o Laboratório Interno de Pesquisas da Nestlé (C.Lab).
A professora de Educação Física, Thaciane de Oliveira Carvalho, formada pelo Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz (FAG), destaca que a atividade física:
“Estimula o equilíbrio, a coordenação motora, força e a flexibilidade, contribuindo para o crescimento saudável dos ossos e músculos. Ela também aperfeiçoa a percepção espacial e a consciência corporal”.
Segundo a professora, os pais podem incentivar esses hábitos em casa, praticando atividades junto com as crianças, brincando ao ar livre, limitando o tempo de tela e criando uma rotina com horários para atividades. Os elogios e incentivos também são essenciais.
Segundo a nutricionista Gabriela Sandri, nutrientes importantes na infância incluem proteínas, cálcio, ferro, vitaminas A, C e D, zinco, ômega-3 e fibras. “A infância é decisiva para a criação de hábitos saudáveis que acompanharão a criança para a vida toda”, afirma. Quando conciliamos a alimentação saudável com atividade física, os benefícios são múltiplos: vemos um melhor desenvolvimento motor, cognitivo e emocional.
Alimentação como emoção
“A forma como a criança se alimenta está totalmente ligada ao jeito como ela se sente por dentro. E isso vai muito além do que tem no prato”, disse a psicóloga infantil Jaqueline Begnini.

A hora de comer, em algumas casas, é vista como um momento tenso; birras e chantagens emocionais são comuns. Mas você sabia que é possível transformar esse momento em algo leve e divertido? A psicóloga explicou que o relacionamento saudável com a comida começa quando a criança tem segurança em ouvir seu próprio corpo. Essa segurança vem quando ela diz “estou cheia”, “não quero agora” e “tô com fome” - e é ouvida, de verdade, pelos adultos à sua volta.
Usar alimentos como recompensas ou castigos, mesmo que com boas intenções, gera prejuízos ao desenvolvimento.
“Em vez de aprender a se ouvir, ela aprende a comer por medo, por obrigação ou pra agradar. Isso pode gerar ansiedade, aversão à comida e até distúrbios alimentares lá na frente”, explica Jaqueline.
Evitar comparações com outras crianças também é fundamental. “Cada criança tem seu ritmo. Em vez de dizer ‘Seu irmão come de tudo e você não’, incentive dizendo:
"Eu vejo seu esforço" ou "Cada corpo é único’”, sugere a psicóloga.
Mas como saber se a criança está usando a comida como válvula de escape para suas emoções? Segundo Jaqueline, os sinais mais comuns são: se alimentar rapidamente ou escondido, pedir comida toda vez que está entediada ou triste e só se acalmar quando come algo específico.
A ajuda psicológica é necessária quando a relação com a comida passa a causar sofrimento, como culpa e ansiedade, quando há recusa em se alimentar que afete a saúde, e quando a criança passa a ter vergonha de seu próprio corpo. Nesses casos, seu comportamento pode estar demonstrando algo mais profundo e que necessita de atenção. O suporte psicológico ajuda a acolher e compreender essas emoções.
Padaria Kids
Em Cascavel, a Padaria Kids, fundada pela gastróloga Natieli Bruning, tem como objetivo oferecer alimentos práticos e saudáveis de forma lúdica para adultos e crianças. Um dos exemplos oferecidos pelo estabelecimento é o “Sr. Dino Esfiha” - esfihas que podem ser recheadas com carne de gado ou frango com temperos naturais. Sua praticidade e formato ajudam os pais a tornarem os lanchinhos mais dinâmicos.

Sobre os principais benefícios dos alimentos produzidos na Padaria Kids estão
“Os vínculos de carinho e amor entre a família, evitar algumas doenças como obesidade, colesterol e diabetes e, pensando em 200 dias letivos, são 200 lanchinhos. Então, o principal benefício está principalmente ligado à saúde”, explicou Natieli.
Ter uma padaria voltada à alimentação infantil, de maneira prática e saudável, traz diversos pontos positivos para a cidade. Além de oferecer saúde e bem-estar às crianças, ela também promove educação alimentar, apoiando os pais em suas rotinas e contribuindo para a formação de uma geração com melhores hábitos alimentares.
Dicas para uma lancheira prática e saudável
O segredo para uma lancheira saudável é ter equilíbrio.
“O ideal é combinar três grupos de alimentos: fonte de energia, como pães integrais, bolos caseiros (com pouco açúcar), biscoitos sem recheio; fonte de proteína ou cálcio, como queijos, iogurte natural, leite ou ovos cozidos; e frutas como maçã, banana, uva, morango ou frutas picadas”, explicou a nutricionista Gabriela.
Pensando em refeições com baixo custo, a nutricionista Izabela orientou que
“A chave está na escolha dos alimentos e no planejamento. Comprar frutas e vegetais da estação, que costumam ser mais baratos, e aproveitar promoções em mercados pode ajudar bastante. Feijão, arroz, ovos e até mesmo a aveia são alimentos nutritivos e econômicos que podem ser incluídos na rotina”.
Lancheira saudável: como montar com equilíbrio e criatividade
Preparar uma lancheira nutritiva e prática pode ser mais simples do que parece. Confira algumas dicas para facilitar o dia a dia e garantir refeições mais saudáveis e divertidas para as crianças:
Planejamento: organize cardápios semanais para evitar improvisos e garantir variedade;
Porções adequadas: ofereça quantidades compatíveis com a idade e o apetite da criança, evitando exageros;
Praticidade: escolha alimentos fáceis de preparar e consumir, ideais para a rotina escolar;
Armazenamento: utilize potes térmicos e garrafinhas para conservar a temperatura e a qualidade dos alimentos;
Criatividade: quanto mais colorido e lúdico, melhor! Corte os pães em formatos divertidos, use palitinhos para as frutas e invista na apresentação para despertar o interesse dos pequenos.
Muito legal Ana, parabéns pelo texto!
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🥰🥰😍
Que bacana Ana. O texto é enriquecedor, não conhecia a fundo o assunto. Parabéns!
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