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Ei, é proibido falar de sexo?

Como a comunicação assertiva em um convívio familiar pode influenciar  no desenvolvimento pessoal do seu filho


 Sexo também precisa ser dito |  Foto: Manuela Nunes
 Sexo também precisa ser dito |  Foto: Manuela Nunes

Sexo: para alguns, se pronunciado três vezes, um pornô aparece na sua frente automaticamente, junto com o manual de como engravidar. É incrível pensar como uma palavrinha de apenas quatro letras pode gerar tanta discussão - e o mais contraditório é que, sem ela, não existiria humanidade. Quais as consequências de se tratar como tabu esse tema?


Não lembro exatamente com quantos anos meus pais me explicaram o que era sexo. Sempre soube, e sempre levei da forma mais leve possível. O conhecimento sobre o assunto veio ainda na infância, mas não em forma de curiosidade exploratória - e sim de cuidado.


Longas conversas com minha mãe sobre abuso, pedofilia e zelo com o meu próprio corpo eram a programação no fim do dia. Ela sempre muito preocupada com a minha segurança, já que vivíamos uma rotina em que ninguém poderia ficar grudado comigo 24 horas por dia - meus pais trabalhavam, eu ia para a escola, pegava van sozinha e, muitas vezes, ônibus. Segundo ela, a maldade poderia estar ao nosso lado. Como eu era muito nova, tudo era amenizado: os órgãos genitais tinham apelidos e os crimes que poderiam ser cometidos também ganhavam outros nomes.


O sexo errado


Mesmo que o conceito tenha entrado na minha vida como um alerta, nunca me gerou medo - mas também não despertou o prazer tão cedo. O equilíbrio estava presente. Claro que isso só foi possível com o auxílio dos meus pais. O choque de realidade veio muito cedo, quando, na escola, me deparei com colegas que tratavam o sexo como se fosse o segredo mais secreto do mundo, guardado em um baú a sete chaves.


Bom, o mais intrigante - ou não, considerando que a sociedade em que vivemos é construída sobre um machismo enraizado - é que os primeiros a falarem sobre sexo de forma prazerosa eram os meninos. Uma evolução? Não, um regresso. Em uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 9% dos homens que são vítimas de violência sexual denunciam o crime. A maioria tem receio de que isso coloque em pauta sua masculinidade. No meio das estatísticas, existem aqueles que só foram entender o que é um abuso depois de adultos, por não terem tido conhecimento sobre essa faceta do assunto. Entenderam-na sem conversa - sem aprendizado - com dor.


O conhecimento é fundamental na denúncia dos abusos. Mas, por mais que seja um assunto em que as mulheres vivem em constante alerta, sendo instruídas sobre o perigo, ainda assim existem aquelas que não falam - por vergonha, medo ou influência. Porque falar sobre questões íntimas, em alguns lares, é sinônimo de julgamento. Abrir as aspas deve começar com os de casa.


Confiança


Amanda Benelli, de 22 anos, cresceu em um lar onde não era comum a liberdade de se expressar. As conversas eram poucas e sucintas, na casa onde a religião prevalecia acima de qualquer coisa. Ao entrar na puberdade, começaram os primeiros namoros, os hormônios, as aulas sobre camisinha na escola e a vontade natural da vida de experimentar coisas novas. As dúvidas e questões ficaram guardadas para si. Ao tocar no assunto, sua mãe reagia como se aquilo fosse o ato mais errado do mundo - mas, quem dera ela, essa tivesse sido a única consequência de uma casa em silêncio. “Essa falta de instrução me trouxe sérios problemas com minha libido nos meus relacionamentos amorosos. Eu pensava que estava fazendo algo de errado, tinha que viver com esse sentimento de angústia”. Amanda relatou que uma barreira foi se construindo com o passar dos anos entre ela e sua mãe.


Mas, em algumas ruas à frente de sua casa, Gabriely Grelak tinha a sorte de viver em um lar onde até as paredes conversavam. Desde muito cedo, sua relação com a mãe era sinônimo de amizade e plena confiança. Qualquer assunto era tratado - principalmente o do sexo. “Sempre tive total liberdade com minha mãe. Ela me ajudou muito em relação a aceitar como eu sou, referente ao meu corpo. Falamos sobre sexo abertamente, tiramos sarro, tiramos dúvidas, e por aí vai”. Uma relação que não foi minada pelo medo, apenas pela liberdade e compreensão.


Engana-se, e muito, quem insiste em dizer que falar sobre sexo é motivar a fazê-lo. Falar sobre sexo é falar sobre direitos, saúde pública e amor-próprio. Como filha, se pudesse deixar um recado para os pais, seria: converse com seu filho. Não trate como tabu algo tão natural. O resultado de uma boa comunicação será uma relação de confiança e o sentimento de dever cumprido. Afinal, a informação sempre chega - de uma hora ou outra. Seja responsável por dá-la corretamente.


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Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

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