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Beleza Fatal: novela com um novo formato é a nova aposta da MAX

Atualizado: 19 de mai.

Produção reflete as consequências dos procedimentos estéticos em excesso



Cena em que Lola descobre a verdadeira identidade de Sofia | Foto: MAX
Cena em que Lola descobre a verdadeira identidade de Sofia | Foto: MAX

A plataforma de streaming MAX - novo nome da HBO Max desde sua reformulação em 2023 - vem revolucionando o mundo das séries e filmes com conteúdos originais de impacto. Em abril deste ano, a empresa lançou sua primeira novela: Beleza Fatal. Com uma história envolvente de vingança e luxúria, a produção chegou a ser comparada ao ícone da televisão brasileira Avenida Brasil, novela de sucesso de 2012.


Beleza Fatal narra a vingança de Sofia (Camila Queiroz) contra Lola (Camila Pitanga), prima distante que foi responsável pela morte de sua mãe, Cléo. A narrativa tem início com a morte de Rebeca, uma jovem de apenas 20 anos, que morre na mesa de cirurgia de Rog, conhecido como Dr. Peitão, por causa da falta de estrutura médica da operação. Lola, secretária da clínica de estética, acaba sendo cúmplice do crime.


O envolvimento da vilã é descoberto pelo próprio marido, que é delegado e investigava o caso. Ele é morto por ela para evitar ser presa. Em um momento de manipulação, Lola convence Cléo, mãe de Sofia, a assumir a culpa por um crime que não cometeu e manda matá-la na prisão, para que ninguém descubra a verdade. Sofia fica órfã e é adotada, por acaso, pela família de Rebeca.


Com um roteiro de ritmo acelerado, o telespectador precisa se adaptar à nova forma de contar histórias, já que a novela contém apenas 40 episódios. Quase não há tempo para processar o que está sendo exibido. As cenas trágicas, que geralmente demoram para acontecer no formato tradicional, ocorrem a todo momento, o que pode representar uma economia de tempo. Antes, esperávamos até três meses para ver um grande final; hoje, em até uma semana, temos a experiência completa.


Os personagens se revelam constantemente. Segredos são expostos e, no momento em que você acha que nada mais pode ser acrescentado, algo surpreendente acontece. A cada episódio, a tensão aumenta. Sofia se transforma e constrói uma falsa identidade, passando-se por Júlia para se aproximar de Lola e vingar-se pela morte de sua mãe e da filha de seus pais adotivos, Rebeca - colocando-se em grande risco.


O autor constrói uma teia complexa na qual todos os personagens se cruzam de alguma forma. Cada um desempenha um papel importante na trama. Mas a grande virada ocorre no último episódio, quando Sofia, antes tratada como mocinha, é consumida por sua própria vingança e termina sozinha, perdendo sua família por ganância e tornando-se a grande vilã. Essa reviravolta gerou grande repercussão nas redes sociais, já que muitos esperavam um final feliz para a personagem, que havia conquistado o público com sua história de vida triste. Sofia conseguiu sua vingança, mas acabou se tornando exatamente quem mais odiava: Lola.


Pressão estética


O enredo de Beleza Fatal, entretanto, vai muito além da história de vingança. O escritor Raphael Montes trouxe para as telas temas urgentes, como transfobia, homoafetividade na velhice, homofobia, machismo e a busca pela beleza inalcançável - este último retratado principalmente por meio da figura do Dr. Peitão.

O autor constrói Rog com duas funções principais: mostrar como alguns homens tratam suas mulheres, diminuindo-as para se sentirem superiores, e representar a personificação da própria sociedade em relação à pressão estética.


Vivemos em uma época em que somos alvos de comparações o tempo todo: com a garota mais magra do Instagram, com aquela pessoa que aparenta ter mais dinheiro ou com a influenciadora famosa que você ama acompanhar. Não importa o quanto tentemos, a comparação surge quase automaticamente. Basta um dia ruim e, pronto, nossos olhos se voltam ao corpo de outra pessoa, enquanto a mente repassa, sem cessar, cada detalhe que nos incomoda em nós mesmos.



Rog aplicando botox em Gisela depois da personagem entrar em um quadro depressivo por sua autoestima baixa | Foto: MAX
Rog aplicando botox em Gisela depois da personagem entrar em um quadro depressivo por sua autoestima baixa | Foto: MAX

Em seu novo casamento, Rog transforma a vida da esposa em uma verdadeira tortura: Gisela nunca é bonita o suficiente - sempre há alguém "melhor". A aplicação constante de preenchimentos, como botox, fios de sustentação e peelings, acaba se tornando a única forma de “amor” que ela recebe do marido.


Com o passar dos episódios, Gisela começa a enxergar a si mesma com outros olhos e percebe o quanto já é perfeita e suficiente por si só, sem precisar de qualquer procedimento. Com a ajuda da sobrinha Carol, que a leva à aula de dança, a personagem consegue reconstruir sua autoestima por meio da música. O desfecho de Gisela é feliz, mas o roteiro deixa uma pergunta latente durante toda a trama: e se a história dela não tivesse terminado assim?


A indústria estética teve um crescimento significativo nos últimos anos. Só no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), são realizados mais de 1 milhão de procedimentos estéticos por ano. Além disso, empresas do ramo vêm investindo cada vez mais em estratégias de convencimento baseadas em promessas milagrosas:

“Está com um cravinho a mais? Use esse creme milagroso!”, “Flacidez? Essa cápsula renova seu colágeno em menos de 30 dias!”. Elas se esforçam para que você crie problemas onde nunca existiram. A pressão estética nunca foi tão grande.

Gisela é apenas um exemplo, e a trama acerta ao abordar o tema, oferecendo ao público reflexões importantes em um momento em que essa discussão se tornou tão necessária.


Em Beleza Fatal, toda a história gira em torno da vaidade, do poder, da beleza e da abundância. Ser vaidosa pode nos fazer ter respeito por nós mesmas, fortalecer a autoestima e até nos ajudar a enfrentar dias difíceis. Mas, quando a vaidade se transforma em uma tentativa de se encaixar em um padrão inalcançável, ela pode nos destruir.


A produção da MAX, assim como outras novelas, retrata a realidade de forma figurada - mas a reflexão está ali, pronta para ser percebida. Que possamos aprender com Gisela que tudo tem um preço e, às vezes, o custo da tão desejada “beleza padrão” é justamente abrir mão da beleza mais importante: a de sermos quem realmente somos.




9 Comments


Ainda não assisti, mas só de ler o texto fiquei curiosa para ver a novela!

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Precisamos cada vez mais assistir essas produção refletindo sobre nós e sobre nossa sociedade! Parabéns pelo texto 😀

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Manuela, você entrega aqui muito mais do que uma resenha de novela - oferece ao leitor uma análise sensível, bem escrita e socialmente relevante. Sua leitura crítica de Beleza Fatal revela maturidade jornalística, especialmente, ao relacionar entretenimento com temas urgentes como pressão estética, vaidade e saúde emocional. A maneira como você articula o enredo com dados e reflexões contemporâneas amplia o alcance do texto e provoca o leitor a olhar além da ficção. Parabéns pela escrita consciente e provocadora. Siga explorando esses caminhos que informam e transformam.

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Ótimo texto, parabéns!!

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Eu amei essa novela, e o contexto geral que ela abrange. Demais!

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Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

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