Amor de mãe: laço que o tempo não desfaz e o cordão umbilical não rompe
- Marielly Grabner
- 11 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: 12 de mai.
Neste Dia das Mães, abrimos aspas para quem materna sozinha, carrega o mundo nos braços e transforma ausência em coragem

O momento exato do surgimento da vida humana ainda é uma incógnita para a sociedade. Alguns acreditam que ela começa no instante em que o óvulo é fecundado; outros creem que a vida se inicia quando o feto passa a apresentar sinais de atividade cerebral. Para muitas mulheres, no entanto, a vida começa com pequenos sinais: o enjoo que não dá trégua, o cansaço constante, os odores que de repente se tornam mais intensos. É nesse momento que a suspeita de uma nova vida se confirma com o “positivo” - uma palavra que carrega consigo grandes emoções e mudanças.
Para as mulheres, a maternidade é um papel desempenhado com amor e carinho, mas também permeado por sobrecargas e medos que raramente as abandonam. Essa responsabilidade se torna ainda maior quando a maternidade é solo, ou seja, quando a mulher assume sozinha a criação e educação dos filhos, sem o apoio de um parceiro. Essa é a realidade de mais de 11 milhões de brasileiras, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A maternidade solo pode decorrer de diferentes situações: escolha da mãe, viuvez, negligência ou abandono paterno. O preconceito contra essas mulheres ainda é profundo, resultado de uma sociedade que insiste em impor padrões excludentes. Danieli Santos Mattia, é mãe solo da Ana Laura, da Lavínia e do Luíz Augusto, há quatro anos, relata que é comum ouvir piadas e comentários depreciativos, especialmente no ambiente corporativo.
“Por ser mãe solo, acham que podem falar o que quiserem. Dizem que, como tenho filhos para criar, aguento tudo calada. A sociedade é muito machista, então essas piadinhas estão por toda parte. Tento levar na esportiva, porque parece que não há outra solução. Isso está enraizado”, lamentou.
Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), entre 2012 e 2022, o número de domicílios com mães solo cresceu 17,8%, passando de 9,6 milhões para 11,3 milhões - um aumento de 1,7 milhão em uma década.
Maternidade em dobro: o peso invisível
A maternidade solo impõe desafios diários que exigem força, resiliência e coragem. A principal dificuldade enfrentada é a sobrecarga - física, emocional e financeira. Sem dividir responsabilidades, muitas mães entram em um ciclo de exaustão permanente, tentando dar conta de tudo sozinhas.
A psicóloga perinatal Eloisa Feltrin comenta os principais impactos que essa sobrecarga provoca. “Ansiedade, processos depressivos e dificuldade na criação de vínculos com a criança, o que facilita o adoecimento materno”, destacou a especialista. Além da sobrecarga, outro sentimento recorrente entre mães solo é a culpa - por não estarem sempre presentes, por não conseguirem suprir todas as demandas, por acharem que não são ‘boas o suficiente’. Segundo a psicóloga clínica Júlia de Carvalho, essa culpa é intensificada por fatores estruturais e sociais.
“Há uma pressão ampliada sobre as mães solo, já que grande parte da sociedade ainda associa a maternidade ideal à presença de um companheiro. Soma-se a isso a exigência de que desempenhem múltiplas funções: provedora, cuidadora, educadora. Quando não se encaixam nesse modelo tradicional, são julgadas com mais rigor”, afirmou.
Um estudo do Instituto On The Go revelou que 51% das mães brasileiras com filhos de até três anos sentem culpa na maternidade. Gisele Nunes, mãe solo de Lívia, faz parte dessa estatística. Ela relata que vive diariamente com esse sentimento por não conseguir dar conta de tudo durante a rotina. “É como se eu estivesse sempre devendo algo, sempre correndo atrás. E mesmo dando o meu melhor, a culpa me acompanha”.
Histórias guardadas no coração: o maior amor do mundo
Apesar dos desafios, a maternidade também é feita de afeto, memórias e conquistas que aquecem o coração. São lembranças que atravessam o tempo e fortalecem a jornada.
Com os olhos marejados ao recordar um momento especial, Danieli compartilha o orgulho de ver a filha mais velha, Ana Laura, se formar no Ensino Fundamental I.
“Ver ela se formando com honras - foi nomeada a melhor aluna da turma e a segunda melhor da escola -, já na transição da infância para a adolescência... Saber que consegui sozinha manter ela, dar suporte, mesmo sem a presença do pai, só comigo e com a avó, me fez perceber que sou uma boa mãe e estou no caminho certo. Me emocionei muito”, relatou.
Gisele, por sua vez, guarda como tesouro os momentos em que Lívia a abraça e diz: “Você é a melhor mãe do mundo”. Para ela, essas palavras simples carregam o sentido mais profundo do amor e da maternidade.

A maternidade solo é atravessada por obstáculos, julgamentos e solidão. Mas também é feita de amor, vitórias silenciosas e vínculos inquebráveis. É no cotidiano - entre tarefas, carinhos, lutas e superações que essas mães encontram motivação para seguir em frente. Neste Dia das Mães, abrir espaço para essas histórias é também reconhecer o amor, a força e a resistência que sustentam lares inteiros.
Que lindo
um dos maiores amores que temos o amor de Mãe! O dia delas é todos os dias, que texto incrível parabéns Marielly.
Feliz dia das mães!
A maternidade solo é um tema complexo, e aqui, Marielly conseguiu abordar várias de suas complexidades, com a sensibilidade necessária. Agradeço pelo convite em participar e parabéns pelo trabalho!
Que texto lindo!