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Você ligou para o Sam: um romance que toca as cicatrizes do coração

Atualizado: 17 de jun.

Uma história emocionante sobre luto, amor e superação, que mistura realidade e fantasia


Perder alguém que amamos nunca é fácil - especialmente, quando a vida não nos dá um aviso prévio, nem sequer a chance de uma despedida. Em Você ligou para o Sam, de Dustin Thao (publicado em 2022), o luto é um protagonista invisível. A história mistura drama e fantasia e conduz o leitor por um caminho temido, mas inevitável: a morte e o processo de luto. A dor da perda escancara o amor que existia ali, e talvez seja por isso que o livro tocou tantas pessoas.


Vivenciar o luto não é fácil, mas se nos permitimos passar por ele, podemos tirar vários aprendizados | Foto: Reprodução/Resenhando Sonhos
Vivenciar o luto não é fácil, mas se nos permitimos passar por ele, podemos tirar vários aprendizados | Foto: Reprodução/Resenhando Sonhos

Logo nas primeiras páginas, somos apresentados à tragédia: Julie, protagonista da história, perde seu namorado, Sam, em um acidente inesperado. Eles planejavam o futuro juntos e compartilhavam sonhos. Em uma passagem marcante, ela narra:

“Eu ainda me lembro de todas as conversas que tivemos sobre o nosso futuro. Nós dois falando sobre morar juntos, sobre as viagens que queríamos fazer, sobre as músicas que íamos ouvir no carro. Ainda sinto como se essas promessas estivessem pairando no ar, esperando para serem cumpridas”.

Como lidar com a dor de perder alguém tão presente em nossa rotina? Julie tenta fugir dos sentimentos - apaga mensagens, muda planos, finge que nada aconteceu.

“Eu simplesmente deletei o Sam da minha vida”, afirma, em um momento de negação.

Mas há algo que não pode ser deletado: a saudade. O vazio ecoa em sua mente, a voz dele insiste em não ser esquecida. Em um momento de angústia, Julie liga para o número de Sam - e, sem explicações lógicas… ele atende.

É aí que o livro começa a flertar com a fantasia. Essa ligação impossível torna-se uma metáfora poderosa: quem já enfrentou o luto sabe que a mente cria diálogos imaginários. Relembramos vozes, risos, conversas e momentos. O autor materializa isso para Julie, oferecendo uma segunda chance simbólica de viver o que ficou suspenso e lidar com os sentimentos reprimidos.


Ao longo da vida, passamos por situações não planejadas e precisamos aprender a lidar com isso | Foto: Arquivo Pessoal
Ao longo da vida, passamos por situações não planejadas e precisamos aprender a lidar com isso | Foto: Arquivo Pessoal

Sam, do outro lado da linha, parece real. Ele a consola, ri, dá conselhos e fala sobre o que ela está vivendo. Mas um dos diálogos mais tocantes do livro acontece quando ele diz:

“Você não precisa me esquecer para seguir em frente. Pode levar as memórias com você”.

Isso nos lembra que, na vida real, superar o luto não é esquecer quem partiu, nem fingir que nunca existiu, mas sim honrar as memórias e carregá-las sem que sejam um fardo.

Ao longo da história, vemos as diferentes fases do luto: a negação, a raiva, a tristeza, a tentativa de um acordo e, finalmente, a aceitação. Mas o autor consegue trazer cada uma dessas fases de forma orgânica, sem parecer que está seguindo uma lista. Dustin apresenta esse sentimento de forma muito humana. No meio da história, Julie se sente culpada por estar seguindo sua vida:

“Às vezes me odeio por continuar vivendo. Como se eu tivesse deixado você para trás”, ela confessa a Sam.

O luto é isso: sentir-se culpado por viver coisas que a pessoa que partiu não poderá viver. Essa dor silenciosa é reconhecida por muitos - sorrir após uma perda parece traição. Sam, que está do outro lado da linha, nos ajuda a lembrar que a vida continua, não porque esquecemos quem se foi, mas porque integramos a perda à nossa vida.

Outro ponto forte do livro são os personagens secundários. Ao longo da história, somos apresentados a Mika, melhor amiga de Julie; Oliver, um amigo de Sam que se aproxima da protagonista; os pais de Julie; e seu chefe, Sr. Lee - todos também impactados pela perda. Isso enriquece a trama, pois mostra que o luto não é vivido de forma isolada. Quando percebemos que não somos os únicos vivendo esse sentimento, somos obrigados a sair da nossa bolha.

“Eu estava tão perdida na minha própria dor que não percebi como os outros também estavam quebrados. Mika chorava escondida. A mãe do Sam deixava pratos intocados na mesa. Eu não era a única a sentir falta dele - todos nós estávamos tentando sobreviver ao mesmo vazio”, descreve a protagonista em outro trecho do livro.

A escrita do autor é poética, mas sem exageros. Ele nos permite pausas durante os momentos de dor e cria diálogos naturais, com os quais podemos nos identificar:

“Queria que as lembranças durassem mais do que a dor. Mas elas vêm juntas, como se uma não pudesse existir sem a outra.”

Trechos como esse capturam a essência da saudade. Memórias carregam sentimentos tristes e felizes e, por isso, não há como superar apagando tudo. Precisamos aprender a lidar com as lembranças sem nos afogarmos na tristeza.

O livro traz uma discussão muito interessante sobre segundas chances - sem mudar o passado. Em vez disso, o texto fala sobre aceitar o futuro e as boas oportunidades que surgirão. O autor mostra que viver a dor é necessário para seguir em frente. Julie se permite passar por seus estágios e sentimentos. E, mesmo não estando pronta - nem nós, leitores -, chega a tão temida hora: o último adeus. Sam diz para ela:

“Você tem que deixar ir, mesmo que doa. Mesmo que pareça que vai me perder para sempre”.

Esse é o ápice do livro, o momento mais emocionante. Não foi fácil chegar até aqui, mas vemos a personagem amadurecer e, finalmente, compreender algo essencial: seguir em frente não significa abandonar - é ressignificar a perda.

Seu amor por ele não desaparece. Ele vai continuar vivendo nela, no dia a dia, nas memórias, nos ensinamentos e nos pequenos detalhes.

No final do livro, o autor escreve sobre encontrar forças para seguir em frente. Julie sabe que parte dela sempre vai amar o Sam, mas entende que a vida precisa seguir, como mostra o trecho:

“Parte de mim sempre vai amar o Sam. Mas outra parte precisa aprender a amar o que vem depois”.

Despedidas não são fáceis, mas são necessárias | Foto: Arquivo pessoal
Despedidas não são fáceis, mas são necessárias | Foto: Arquivo pessoal

Além da trama principal, Você ligou para o Sam nos faz refletir sobre outros pontos de vista do luto. Temas como amizades, apoio emocional, saúde mental e a importância de pedir ajuda são retratados. Em muitos momentos, vemos Julie se isolar em sua dor e viver em sua bolha de sofrimento, nos fazendo pensar na importância de ter alguém com quem conversar - mesmo quando tudo parece desmoronar.

Um detalhe bonito é como a tecnologia (o celular) é usada como símbolo de ligação entre o passado e o presente, entre memórias e realidade. Em um mundo onde estamos sempre conectados, Thao nos faz lembrar que algumas conexões vão além do físico - e que, às vezes, tudo o que precisamos é de uma voz do outro lado para encontrar paz.

Você ligou para o Sam não é apenas um romance sobre um amor interrompido. É um livro sobre resiliência, sobre aceitar a dor e encontrar beleza mesmo nos momentos mais dolorosos. Com uma narrativa tocante, personagens bem construídos e diálogos sinceros e necessários, Dustin Thao promove uma leitura que conforta e emociona - especialmente, para quem já enfrentou o luto. Em muitos momentos da história, nos colocamos na situação de Julie e imaginamos o que faríamos de diferente, até que entendemos que cada um tem sua maneira de viver a perda.


Dustin Thao é um autor vietnamita-americano que começou a escrever por volta dos 16 anos, além do livro “Você ligou para o Sam” ele escreveu o “Quando Haru estava aqui” | Foto: Reprodução/Instagram (@thedustinthao)
Dustin Thao é um autor vietnamita-americano que começou a escrever por volta dos 16 anos, além do livro “Você ligou para o Sam” ele escreveu o “Quando Haru estava aqui” | Foto: Reprodução/Instagram (@thedustinthao)

O livro não nos traz respostas, nem uma receita para superar essa dor, mas nos ajuda a lembrar do essencial:

“Você não está me perdendo. Está apenas me guardando de um jeito diferente”.

Não esquecemos quem se vai - guardamos a pessoa em cada detalhe do dia a dia e aprendemos a lidar com sua ausência.

O livro é recomendado para jovens leitores e para qualquer pessoa que queira explorar o amor, a dor da perda e a superação. Uma leitura que nos faz chorar, refletir e aprender que, devagar, é possível ressignificar o luto. Você ligou para o Sam é um abraço literário para corações partidos!



3 Comments


Arrasou no texto meus parabéns Ana

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Aaaaii, parece um livro incrível, Ana. Se eu não tivesse sido traumatizada pelo livro "Como eu era antes de você" da Jojo Moyes, com certeza leria, mas esgotei minha cota de choro kkkkkkk'.

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🥹🥹

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Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

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