A “Garota do momento” brilhou… e desapareceu!
- Cláudia Resena da Silva
- 13 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 6 dias
Após boa recepção inicial, trama é alvo de críticas por inconsistências no roteiro e queda de qualidade narrativa

Garota do Momento é uma telenovela brasileira que estreou em novembro de 2024, escrita por Alessandra Poggi, com direção de Natália Grimberg e produção da TV Globo. Exibida de segunda a sábado, às 18h25, a trama cativou o público desde o primeiro capítulo, tanto pelo enredo quanto pelas atuações marcantes do elenco. A premissa instigante despertou a curiosidade dos telespectadores, que passaram a acompanhar ansiosamente os desdobramentos da história.
Agora, em sua reta final - a exibição termina em junho - a produção ultrapassa os 200 capítulos, tornando-se a mais longa da emissora no horário das 18h nos últimos 20 anos. No mês de maio, bateu recorde de audiência, alcançando 21,3 pontos e superando os 21,0 registrados no capítulo de estreia.
Um breve resumo da trama
A história se passa nos anos 1950 e acompanha Beatriz (Duda Santos), jovem que cresceu acreditando ter sido abandonada por sua mãe, Clarice (Carol Castro). Ao descobrir que ela está viva, Beatriz decide reencontrá-la e embarca em uma jornada em busca da verdade sobre seu passado. Nessa trajetória, apaixona-se por Beto (Pedro Novaes), noivo da jovem que, acreditando ser filha de Clarice, ocupa o seu lugar.
Nos primeiros capítulos, a novela conquistou o público, que aguardava ansiosamente o próximo episódio. A montagem dos capítulos despertava o famoso “gostinho de quero mais”, principalmente pela maneira como as prévias dos próximos episódios eram apresentadas: sem grandes spoilers. Ao contrário de outras novelas, em que se revelam até falas dos personagens, Garota do Momento inovou com teasers estratégicos e o retorno da clássica “cena de congelamento”, um recurso que vinha sendo deixado de lado.
A maioria dos personagens contava com tramas envolventes e espaço para desenvolvimento individual, além de casais que movimentavam a audiência. Um dos destaques foi o casal Celeste (Débora Ozório) e Edu (Caio Manhente), que protagonizou um clássico clichê romântico: após trocas de cartas sob pseudônimos, armadilhas e desencontros, apaixonam-se sem saber que estavam se correspondendo o tempo todo. Ah, o clichê… quem não gosta?
Vilões? Temos
Até mesmo o personagem inicialmente designado como vilão acabou conquistando o público. Basílio (Cauê Campos) surgiu para atrapalhar o casal protagonista, aliado à família Alencar - os verdadeiros antagonistas. Inicialmente detestado, Basílio viu sua popularidade crescer após sua “máscara” cair. Hoje, tornou-se um dos queridinhos do público. Continua fazendo armações, é verdade, mas agora para ajudar a mocinha.
Já a personagem mais odiada pelo público atualmente é Bia (Maisa). Mesmo sendo apenas uma adolescente, ela desperta a ira dos telespectadores por seu comportamento racista, mimado e impune. A personagem sabotou o creme de cabelo crespo de Beatriz, a chamava de "Coisinha" e cometeu diversos atos graves - como armar para incriminá-la por roubo e até incendiar um vestido -, sem jamais ser responsabilizada. O público tem manifestado indignação, principalmente nas redes sociais, onde acusam o roteiro de “passar pano” para a personagem, favorecida até mesmo pela mãe Clarice, que constantemente ignora suas ações.
O anticlímax da grande revelação
O tão aguardado momento em que Clarice recupera a memória e descobre que Beatriz é sua filha verdadeira deveria ser o ápice da trama. No entanto, o desfecho trouxe frustração: mesmo ciente de tudo que Bia fez, Clarice pede que Beatriz abdique de seu amor por Beto para que a filha mimada tenha uma última chance de felicidade, já que está prestes a morrer devido a um problema cardíaco.
O roteiro insiste em retratar Bia como uma vítima, tentando conduzi-la a uma redenção forçada. Tudo indica que ela terminará com Ronaldo, o rapaz que humilhava, mesmo sem merecer esse final feliz. O público discorda.
O ofuscamento da protagonista
Em determinados capítulos, a protagonista praticamente desaparece da trama. Ainda que seja importante dar espaço a outros núcleos, o apagamento de Beatriz incomoda. Inicialmente retratada como uma mocinha forte e combativa, a personagem perdeu força ao longo da narrativa, abaixando a cabeça diante dos vilões e sem reagir de forma significativa.
Núcleos cativantes... E outros nem tanto
Entre os destaques da novela está o clube “Gente Fina”, frequentado majoritariamente por personagens negros. Inspirado em locais reais, o espaço simboliza resistência e representatividade. Um episódio especial chegou a contar sua origem. No entanto, esse núcleo foi sendo deixado de lado nos capítulos mais recentes — um apagamento sentido por parte da audiência.
Em contraste, o núcleo cômico de Jacira (Flávia Reis), que inicialmente funcionava como alívio, perdeu o charme. Suas interferências na vida de Teresa (Maria Eduarda de Carvalho) se tornaram repetitivas e sem propósito, resultando em cenas cansativas.
A rápida saída do casal gay
O personagem Guto (Pedro Goifman) descobre sua homossexualidade ao longo da trama, protagonizando uma delicada cena de aceitação ao contar para a mãe e o irmão. Inicia um romance com Vinícius (Elvis Vittorio), celebrado nas redes sociais pelo público como “Gunícius”. O primeiro beijo do casal foi amplamente comentado, embora criticado por sua brevidade.
Nas redes sociais, comentários como “Vocês estão comemorando um beijo horrível desses. Por isso que as coisas continuam como estão”, “A novela fala de preconceito, mas na prática quer censurar” e “Compreensível a crítica, mas o contexto da novela não pedia um beijão” refletiram a tensão entre expectativa e entrega.
Logo após esse marco, Vinícius precisou deixar a trama para cuidar do pai nos Estados Unidos, o que levou o casal a manter um relacionamento à distância. Desde então, suas aparições diminuíram drasticamente. A ausência de cenas do casal deixou o público desapontado e levantou questionamentos: por que esse afastamento tão brusco? Não foi por falta de aprovação do público, já que muitos ainda expressam saudade e carinho pelo casal.
Erros de roteiro?
Muitos acreditam que as falhas recentes se devem ao esticamento da novela. A previsão inicial era de 179 capítulos, mas o número subiu para 202. Com isso, tramas que poderiam se resolver rapidamente foram prolongadas e alguns núcleos inflados desnecessariamente.
Mesmo assim, isso não justifica a falta de consequências para ações graves, especialmente as cometidas por Bia. A expectativa é que ela tenha um final redentor, com um simples pedido de desculpas apagando todos os seus atos - incluindo atitudes racistas, sabotagens e crimes. É esse tipo de condução que tem causado frustração na audiência.
A novela ainda não acabou, mas sua reta final já sinaliza que certas questões permanecerão sem resolução - e o público não está disposto a aceitar isso em silêncio.
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Parabéns pelo texto, Cláudia!