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Um doce de vida

Lembranças com sabor de chocolate

No dia 7 de julho é comemorado o Dia Mundial do Chocolate | Foto: Mikaella de Moura
No dia 7 de julho é comemorado o Dia Mundial do Chocolate | Foto: Mikaella de Moura
Não era apenas uma lata: era uma lata de Toddy!

Quando aberta, seu cheiro tomava conta do ambiente e ia se espalhando pela casa, adoçando cada cômodo como um convite nada sutil que imediatamente era reconhecido e aceito pela criançada. Em polvorosa, logo se reuniam em volta da barra da saia da mãe, que mexia um caldeirão cheio de um leite marronzinho e fumegante.

Com uma concha, as xícaras eram enchidas. A fumaça ia subindo e o calor se esparramando pelo recipiente, esquentando os dedinhos magricelos da pequena Tânia, que aguardava, ansiosa, a degustação.

Aquele era simplesmente o melhor doce da vida!

De vez em quando, ela não resistia em experimentar aquela maravilha direto do pote, cutucando com a colher aquele pozinho que, de tão bom, parecia mágico.

Ah, e também faziam a melequinha: colheradas de Toddy e só um trisquinho de leite. Mexiam tudo e tcharãn! Estava pronta a oitava maravilha do mundo!

Mas certo dia, Tânia, já mocinha, entrou no bar do seu irmão mais velho.

Era cedo. Muito cedo.

As pessoas ainda dormiam.

O bar, fechado. A não ser pela portinha dos fundos, pela qual a mocinha espoleta, sorrateiramente, entrou.

Ela avistou, do outro lado do da conveniência, o que seu irmão chamava de chocolate.

A embalagem era vermelha com coquinhos brancos desenhados: prestígio, dizia no papel.

Ela rasgou a embalagem e um cheiro doce e convidativo a atingiu.

Uma mordida.

Outra mordida.

Mais uma… Aquilo era divino!

Ela precisava de mais um!

Estendeu a mão e… Uma embalagem amarela e vermelha, toda quadriculadinha, lhe chamou a atenção: chokito, era o nome.

Tânia teve uma certeza naquele dia: ela amava chocolate!

No dia seguinte, outra certeza: precisava filar mais um pouco.

Surpreendentemente, o negócio do irmão não foi pra frente, para a tristeza dele e de Tânia que, agora, tinha ouvido falar num tal de “ovo da páscoa” - palavras que escreveu em um pedacinho de papel e colocou na mão de seu pai.

E lá ia ele, com a lista da esposa e da filha no bolso, fazer compras na cidade vizinha.

Mais tarde, o ronco do seu fusca anunciava sua chegada.

A jovem correu feito criança para receber o pai, que lhe entregou uma embalagem grande e colorida. Ao segurar, sentiu o conteúdo se desfazer em suas mãos.

O chocolate estava derretido, mas nada que algumas horas na geladeira não consertasse. Quando finalmente comeu, o formato não era mais de ovo, mas Tânia não se importou e deliciou até o último pedaço.

Anos mais tarde, já moça, em um ponto de ônibus, depois de um dia cansativo de trabalho, ela estava com fome. Muita fome! Olhou para o lado e viu um homem comendo um chocolate diferente: a embalagem era de um rosa reluzente. Tânia conseguiu ler Sonho de Valsa escrito em amarelo.

Com água na boca, ela comprou um. Em duas bocadas, já tinha terminado.

Aquilo era dos deuses!

Logo, sua amiga lhe apresentou uma bolinha com o nome de Amandita.

Essa, Tânia devorou em uma bocada só.

Mas a moça de espírito espoleta, de repente, se encontrou aborrecida.

Ela estava grávida - o que era incrível - mas sua gestação estava sendo difícil.

Repouso, o médico pediu. Muito repouso.

Então, para animá-la, seu esposo - conhecendo bem a mulher que tinha - lhe comprou o quê? Adivinha?

Chocolate!

Não: chocolates! No plural.

Em uma sacola, ele trouxe uma variedade daquele tal de Sonho de Valsa: tinha do preto, do branco e do misto!

Tânia não tinha preferência e se divertia fechando os olhos e mergulhando a mão na sacola para sortear o chocolate da vez.

São doces lembranças de uma época amarga: infelizmente, depois do nascimento, seu garotinho não resistiu.

Anos depois, no caixa do supermercado, uma menininha se esticou ao seu lado e colocou uma caixa de chocolate na esteira. Sua bebê arcos-íris tinha puxado a mamãe e sabia o que era bom. Mas, infelizmente, Tânia não tinha dinheiro e precisou explicar para a filha que, naquele dia, elas não poderiam levar.

No dia seguinte, a mãe de um amiguinho de sua filha passou na casa de Tânia com o garoto: no carro, uma cesta repleta de chocolate. Era páscoa.

Os olhos da garotinha brilharam!

A mãe do menino perguntou se ele daria um para a amiguinha.

Tânia esperou com expectativa, mas o garoto disse que não e, só depois da insistência da mãe, deu um mini ovinho, daqueles de chocolate fracionado, com embalagem colorida, como as bolinhas de futebol e os guarda-chuvas de chocolate.

A pequena garotinha agradeceu, educadamente, seu mini ovinho.

E o coração de Tânia se apertou.

No outro dia, escutou sua vizinha chamando sua filha pelo muro.

Ela lhe entregou um saquinho cheio de chocolate e Tânia chorou de felicidade.

Junto de suas filhas - porque agora tinha duas - Tânia descobriu muitos chocolates: a Tortuguita, outras variedades de ovos de páscoa, um tal de brigadeiro - que começaram fazendo com o bom e velho Toddy - até chegarem a marcas mais sofisticadas, como Cacau Show e Lindt, seu preferido.

O que antes era apenas um tira gosto, um docinho filado do bar do irmão, se tornou uma forma de demonstrar amor. Quem diria que, aquela Tânia, magrinha e espoleta, comendo, escondida, seu primeiro Prestígio, um dia, ganharia caixas de chocolates - daqueles com licor de cereja - de presente, de suas filhas, de seu esposo, de seus amigos… Que enviaria para a filha que mora longe uma cesta de chocolates e teria condições de dar muitos ovos de páscoa para seu netinho.

Ah, o chocolate… Perfeito para os dias de alegria e um ótimo companheiro para os momentos de tristeza.

Pode ser um bolo, um brigadeiro de panela, um bombom dos caros ou aquele Sonho de Valsa dos deuses.

Esse doce, cheio de açúcar e cacau, de alguma maneira, consegue reunir a família em volta da mesa, arrancar sorrisos sinceros, despertar memórias antigas e criar novas.

Tânia ama chocolate, mas tem algo que consegue ser ainda mais doce e melhor: os momentos que vive em torno dele.



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Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

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