O eco da solidão na terceira idade
- Ana Cláudia Teodoroski
- 1 de jul.
- 4 min de leitura
O isolamento silencioso de muitos idosos revela uma urgência: precisamos reaprender a cuidar, a ouvir e a estar presentes

Envelhecer é um processo natural da vida. Em filmes, vemos personagens idosos cheios de vitalidade, rodeados por suas famílias, ainda ativos em seus hobbies e rotinas. Mas a realidade nem sempre reflete essa imagem idealizada. Para muitos, a velhice chega acompanhada de um visitante silencioso e persistente: a solidão
Segundo uma pesquisa de 2023, publicada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), 84% da população brasileira tem acesso à internet. Redes sociais, chamadas de vídeo e grupos reduzem a distância e aproximam pessoas. Mas, paradoxalmente, mesmo com tanta conexão, os idosos seguem sendo isolados e pouco se fala sobre isso. É como se estivessem fora do alcance dos algoritmos.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feito em 2022, o Brasil já ultrapassou a marca de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o correspondente à 15% da população. São milhões de histórias querendo ser ouvidas, memórias e carinho que foram guardados por anos, esperando por alguém.
Um estudo realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), publicado em 2023, considerou a resposta de mais de 8 mil pessoas com mais de 50 anos. Dentre eles, 16,8% relataram sempre se sentir sozinhos e 31,7% dos questionados indicaram sempre sentir solidão.
É um sentimento humano, são vozes que muitas vezes não são ouvidas, é a ausência que grita no fim do dia, a mesa vazia no domingo.
A solidão não é apenas um sentimento, é um fator de risco para doenças graves. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a solidão e o isolamento social aumentam em 50% o risco de demência, em 25% o risco de morte e em 30% o de doenças cardiovasculares. Além disso, a exclusão social agrava casos de depressão e ansiedade. Idosos que se sentem esquecidos perdem a vontade e a motivação para realizar atividades do dia a dia, como se alimentar bem, cuidar da higiene e tomar suas medicações. A falta de estímulos e contato social acelera o declínio cognitivo e compromete a qualidade de vida.
Mas o que leva tantos idosos à solidão e ao isolamento? Entre os principais motivos estão: a morte de cônjuges ou amigos, a distância ou a própria falta de interesse dos familiares, a aposentadoria, a mobilidade reduzida e até mesmo a exclusão digital. Além dos fatores citados, há uma questão cultural - o culto à juventude. Vivemos em uma sociedade que valoriza cada vez mais o novo, a rapidez, a estética e a modernidade. A velhice, muitas vezes, é vista como sinônimo de incapacidade, de fim. E assim, aos poucos, os idosos estão sendo apagados dos locais de convivência, da mídia, das conversas e, até mesmo, das famílias.
É necessário ressignificar a imagem da velhice. É possível ser idoso e continuar com seus hobbies, continuar tendo sua independência, vivendo uma rotina. Ações simples são capazes de resolver essas questões, podemos começar por envolvê-los em decisões sobre suas próprias vidas, incluir suas opiniões para as coisas, incentivá-los a participar de atividades externas e, até mesmo, incluí-los no mundo digital.
Envelhecer parece que virou um erro que deve ser escondido quando, na verdade, deveria ser motivo para celebrar.
Há iniciativas que fazem a diferença. Os bailes da terceira idade, atividades físicas que são oferecidas nos bairros, pastorais da saúde, oficinas de memória e os grupos religiosos são maneiras de continuar a conviver com outras pessoas, fazer ou rever amizades antigas. O envelhecimento não precisa ser solitário se for compartilhado.
Não se trata de apenas oferecer companhia, se trata de se fazer presente, de ouvir, de rir, de compartilhar, reconhecer sua trajetória até o presente momento. Quando ouvimos uma história de uma pessoa mais velha, estamos ouvindo sobre a nossa história também. São vidas inteiras que carregam sabedoria e conselhos valiosos.
Cada um de nós pode agir para mudar esses dados, seja com um telefonema, uma visita, um almoço de domingo ou um passeio, contanto que seja real, que a sua presença esteja focada naquele momento. É nas pequenas atitudes que demonstramos que nos importamos de verdade.

O grande desafio da nossa sociedade não é apenas garantir o envelhecimento saudável fisicamente, mas também, com presença, pertencimento e amor. Ser isolado, não deveria fazer parte do envelhecer. Isso acende um alerta, devemos voltar nossos olhares para essa parcela da população e sua saúde mental. A solidão na velhice é um problema invisível porque não grita, mas machuca os envolvidos. Precisamos resgatar o valor do cuidado, do afeto, da escuta e não abandonar, a responsabilidade é coletiva. Que possamos, enfim, reconhecer que ninguém deveria chegar ao final da vida sentindo que está só no mundo.
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