Maternidade e seus pequenos gestos: o amor que mora nos detalhes
- Maria Heloísa Nunes
- 17 de jun.
- 6 min de leitura
Vínculo entre mãe e filho é construído nas ações simples e diárias, cheias de afeto e significado
A maternidade é uma história contada em silêncio, feita de pequenos gestos que, por serem quase invisíveis aos olhos e à correria do dia, carregam o amor mais puro. É na tranquilidade de cada amanhecer, antes que o caos comece, que a maternidade se revela. Um toque suave nos cabelos, um abraço apertado ou um olhar cheio de ternura são demonstrações de carinho feitas sem pressa, de forma simples, que podem parecer pequenas, mas carregam um significado imenso. São essas ações cotidianas que fortalecem o vínculo entre mãe e filho.
A maternidade é uma das experiências mais únicas. Apesar de livros, filmes e relatos tentarem descrevê-la, só quem vive - quem sente na pele o peso e a beleza de ser mãe - conhece o que está por trás de cada movimento, fase e gesto.
Muitos acreditam que a maternidade se resume apenas a grandes momentos, como a primeira palavra, os primeiros passos, o aniversário de um ano. Mas, na verdade, é na rotina que se encontra a essência de um amor profundo, capaz de curar, acolher e transformar.
Os pequenos gestos
Gabrielly Ryandra Bertolini Quaggio, mãe de Maria Luiza Bertolini Klein, de 2 anos, tem uma rotina intensa, mas encontra na simplicidade dos gestos do dia a dia o verdadeiro significado da maternidade. Ela compartilha que, nos dias corridos, tira momentos para se conectar com a filha - como pintar as unhas, ler os livrinhos da Malu, tomar banho juntas ou fazer o "toquinho das garotas" quando Malu acerta alguma atividade - criando momentos de carinho entre elas. Para Gabi, a maternidade é feita desses pequenos gestos diários. “Eu acredito que as melhores memórias serão construídas com base na confiança, respeito e carinho que estabelecemos agora, na infância”.
Gabi observa o quanto a filha reflete esses gestos de amor e empatia - como quando oferece um "beijinho para sarar" a alguém com dor ou pergunta “quer abraxo?” ao perceber tristeza. Ela acredita que essas atitudes são a base da conexão emocional entre as duas. “Quando você valida os sentimentos e se coloca à disposição para ajudar, a relação só cresce”, diz Gabrielly.
Apesar dos momentos de cansaço e da insegurança natural da maternidade, Gabi encontra equilíbrio e apoio especialmente na terapia, que a ajudou a lidar com pensamentos e sentimentos, e no auxílio do pai de Malu, que participa da divisão das tarefas domésticas e dos cuidados com a filha. “Mesmo me doando ao máximo, no final do dia sempre vem aquele pensamento: será que fiz tudo o que podia por ela?”, relata Gabi.
Mas ela acredita que a base do relacionamento entre as duas está nos pequenos gestos de afeto - como um abraço, um sorriso ou um toque carinhoso, como o “narizinho com narizinho”, nome dado por elas ao gesto.
Para Gabi, a maternidade é sinônimo de doação. “Uma doação constante, de tempo e esforço. É o ato de doar-se para um ser que precisa de você constantemente”.
À medida que a filha cresce e repete atitudes que presencia em casa, Gabi vê o reflexo da criação que está oferecendo. “Tudo que a gente faz com ela, ela já começou a repetir. E é aí que começo a ver o reflexo da criação que estou dando para ela - e o reflexo de quem eu sou, eu vejo nela”, conclui.

Pequenos laços
Débora de Moura, mãe de Nicolas de Moura Dantas, de 5 anos, compartilha sua experiência materna, destacando os pequenos gestos de afeto e uma rotina repleta de significado. Para eles, o momento mais especial do dia é o café da manhã.
“Desde o preparo de um leite com Nescau, um ovo, um pãozinho... é um momento único que a gente compartilha. É uma troca muito especial e gostosa. Sentamos juntos à mesa, conversamos - e esse é um gesto que faz parte da nossa rotina. E a gente ama”, conta Débora.
Ela descreve o tempo com o filho de forma simples, mas cheia de afeto. “Fazer um quebra-cabeça juntos, onde trabalhamos a questão do afeto e do raciocínio lógico, e também sair para passear em lugares com natureza. Se divertir com essas pequenas coisas”.
Débora acredita que esses momentos, embora pareçam simples, fazem uma diferença imensa na vida dos dois.
Nos cuidados diários, ela expressa seu amor com delicadeza. “Alguns gestos, como dar banho, fazer a higiene, trocar a roupa... todo esse cuidado, esse zelo e carinho que estou passando para ele é algo que transmite segurança e proteção”.
Apesar da correria entre maternidade e vida profissional, Débora busca integrar o filho em suas atividades diárias e sociais.
“A maternidade é linda. Não é romantizar, mas ela é muito perfeita - e fica ainda mais linda quando você quer enxergar isso. Se começar a negativar, ela vai se tornar muito pesada. Mas quando você tenta ressignificar tudo e olhar com gratidão, ela fica muito mais leve”.
Débora diz ser profundamente grata a Deus por viver esse momento único chamado maternidade.

A psicologia dos pequenos gestos
Patrícia Lorenzoni, psicóloga especializada em Neuropsicologia e Avaliação Psicodiagnóstica, explica que esses pequenos gestos e vínculos contribuem para a formação da personalidade da criança. “A criança vai se tornar um adulto mais seguro, com boa autoestima, e esse vínculo, esse contato, é um dos pilares que vão contribuir para essa personalidade”, afirma Patrícia. Ela reforça que esses pequenos gestos que acontecem no cotidiano da vida têm um impacto muito grande — e maior que muitos outros.
“Às vezes, as memórias que nós temos da infância são de coisas que aconteciam corriqueiramente, que nossos pais faziam pra gente, e não de uma viagem, ou de algo, por exemplo, que aconteceu esporadicamente”, explica.
Com isso, pequenos gestos no cotidiano são de extrema importância e de um peso muito grande.
O afeto e o vínculo são construídos pela mãe desde a gestação. E, a partir da chegada do bebê, esse vínculo se aprofunda - e tudo isso parte da mãe. “Nasce o bebê, nasce uma mãe, e essa mãe vai tendo essa construção de vínculo, conforme vai atribuindo seu tempo e seu afeto a essa criança. Isso vai aumentando e reflete positivamente na autoestima dessa mãe, pois ela se sente suficiente e capaz para aquela criança”, pontua Patrícia.
Ela destaca também que, conforme a criança vai crescendo, o vínculo e a forma de contato com os pais mudam. “Antes, a criança procurava colo e afago; na adolescência, isso muda. Já temos um indivíduo com uma limitação maior para o afago e o contato físico, mas esse contato deve continuar, seja por meio da comunicação ou do diálogo - ele não pode se limitar apenas ao contato físico. A mãe percebe como o filho se sente à vontade com esse contato e vai acompanhando, mantendo sempre os olhos atentos para entender as mudanças que eles estão passando”, esclarece a psicóloga. Portanto, esse olhar atento serve como guia para que as mães saibam como agir em cada fase do desenvolvimento da criança.
A força da Maternidade
A maternidade se revela em gestos pequenos, mas profundamente significativos, que ocorrem no cotidiano. É nesses momentos que se forma o verdadeiro alicerce da relação entre mãe e filho - seja o toque carinhoso de um ‘narizinho com narizinho’ ou o preparo de um ‘leite com nescau’ para o café da manhã - são gestos que demonstram mais do que qualquer palavra. Embora, na sociedade, o foco esteja em grandes datas e eventos, é no gesto simples e recorrente que se encontra a verdadeira essência dessa experiência de ser mãe e viver a maternidade.
Esses gestos, realizados muitas vezes em meio ao cansaço e à exaustão do dia, tornam-se a linha que mantém a mãe conectada ao seu filho, renovam a energia e fortalecem o vínculo entre os dois. Para a mãe, essa é a força que vem de maneira ‘silenciosa’, que ajuda a equilibrar todas as funções que precisa exercer. E, para o filho, esses gestos são a base que aumenta a confiança e o amor.
Ao longo do tempo, esses gestos que hoje parecem pequenos irão se tornar as memórias mais preciosas de um amor vivido em cada movimento.
Com isso, fica claro que a maternidade não é apenas feita de momentos grandiosos, mas sim de gestos cotidianos que, em sua simplicidade, carregam um poder incalculável e eterno. É nesses gestos que é construída a verdadeira história do que é a maternidade.
Lindo texto! 👏
Lembro-me com muito carinho da minha mãe penteando meus cabelos, fazendo coque para o ballet, assando bolo para mim e minhas amigas, costurando roupinhas para minhas Barbies. São memórias de momentos simples, mas ricos de amor. Obrigada por esse texto lindo, Maria.
Vejo de perto o amor, o carinho e o cuidado da minha irmã, Débora, com meu sobrinho, Nicolas. Sei dos desafios que ela enfrenta e, mesmo diante de tudo, ela é simplesmente uma mãezona incrível e dedicada. Uma inspiração. ❤️
👏🏻👏🏻👏🏻