top of page

Alimento para quem tem fome, calor para quem tem frio

Provopar de Cascavel ajuda cerca de 12 mil pessoas em situação de vulnerabilidade social


Doe calor, receba amor | Foto: Emanuele Moreira
Doe calor, receba amor | Foto: Emanuele Moreira

Apesar de não existir um só significado consolidado na literatura, a expressão vulnerabilidade social pode ser definida, de maneira simples, como a condição que causa um risco social, econômico, ambiental e institucional a indivíduos. A condição compromete a capacidade dos afetados de viver com dignidade e acesso a direitos básicos no dia a dia. 

De acordo com dados apurados em 2023 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 59 milhões de pessoas vivem na faixa da pobreza no Brasil, representando 27,4% da população. Para determinar essa porcentagem no país, o Banco Mundial considera R$ 665 per capita por mês no núcleo familiar para identificar a pobreza, e R$ 209 para apontar a extrema pobreza

Para que esse número seja minimizado no país e, principalmente, para que os afetados sejam auxiliados de maneira humanitária e eficaz, é de extrema importância o papel de programas sociais e apoio da população. No Paraná, entre as assistências existentes, há o Provopar: o nome vem da abreviação de “Programa do Voluntariado Paranaense”; determinada como uma entidade de assistência social e voluntariado do estado. 

O programa, sem fins lucrativos, atua na promoção de atividades e projetos de enfrentamento à pobreza, visando ofertar qualificação e elevar a qualidade de vida de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Em Cascavel, a instituição está localizada no bairro Pacaembu, na rua Martim Afonso de Souza, número 550. O local presta serviço na cidade há cerca de 15 anos e, atualmente, atende, em média, 3.200 famílias, ou seja, em torno de 12 mil pessoas no total. 

A psicóloga da instituição, Aline Cristina Chaves, explica que, para ser possível receber o atendimento, é necessário realizar, através da assistência social, o Cadastro Único - um sistema do governo brasileiro que reúne informações sobre as famílias de baixa renda; ele identifica e caracteriza aqueles que precisam deste tipo de assistência. O responsável familiar deve se deslocar até o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), ou a postos de atendimento da assistência social do município, e apresentar um documento com foto, CPF, comprovante de residência e os documentos de todos os membros da família para completar o cadastro. A partir disso, a situação de cada um é avaliada pelo Provopar em cima da renda per capita de R$ 700.


Brechó social: quando a dignidade ganha cores | Foto: Emanuele Moreira
Brechó social: quando a dignidade ganha cores | Foto: Emanuele Moreira

Em média, 30 a 35 famílias são atendidas por dia no Brechó Social, que fica dentro da sede do Provopar. A quantidade de peças que pode ser levada é determinada pelo número de  pessoas que há na família: uma pessoa pode levar sete peças, para duas pessoas, são 15 peças, para três pessoas, são 20 peças e já para quatro pessoas, ou mais, são 25 peças. Para que o atendimento seja organizado e para que a instituição consiga dar a devida atenção a todos que vão até o local, é necessário marcar hora para a retirada das roupas. 


Quando o amor pelo inverno se torna privilégio

Frio, névoa e escuridão - foi assim que Cascavel amanheceu no dia 10 de junho | Foto: Catve
Frio, névoa e escuridão - foi assim que Cascavel amanheceu no dia 10 de junho | Foto: Catve

Dados do Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná) apontam que, em maio de 2025, a temperatura média em Cascavel foi de 17,8 °C, sendo 29,4 °C a máxima registrada no dia 9, e a mínima de 2,4 °C nos dias 29 e 30. O sistema apresenta ainda que, para junho, a temperatura máxima média deve ser de 21,7 °C e a mínima média há de ficar em 12 °C. Com a chegada do inverno, no dia 20 de junho, os dias na cidade já apresentam sensações térmicas abaixo de 0°C. 

A expectativa é que os termômetros continuem registrando resultados negativos, principalmente em dias chuvosos, o que significa que muitos dos indivíduos em situação de vulnerabilidade social estão expostos a riscos com a falta de roupas de frio e cobertores, resultando em problemas de saúde e mal-estar. Para que o máximo de pessoas possível possam ser auxiliadas na cidade, é primordial a ajuda da população. 

Todo tipo de doação é necessária: cobertores, sapatos, peças femininas, masculinas e infantis — mas, claro, sempre em bom estado de uso. Aqueles que podem ajudar, devem ir até o Provopar para entregar os donativos. Mas, além disso, há diversos pontos espalhados pela cidade que realizam o recolhimento das doações, como mercados e empresas. 

Outra maneira de os cascavelenses ajudarem é através das diversas campanhas que a instituição realiza durante o ano e, principalmente, nesta época fria, como, por exemplo, o Aquece Cascavel 2025 que tem como pontos de arrecadação: a Prefeitura de Cascavel, OAB Cascavel, Sincovel, Câmara dos Vereadores, 6º BPM (Batalhão de Polícia Militar), Simone Ayala Hair, ACIC, AMIC, Sindilojas e 1º Ofício de Registro de Imóveis, entre outros. Para que essas campanhas sejam realizadas, o programa conta também com a parceria com a Prefeitura da cidade e com diretorias de bairros, que auxiliam na entrega das roupas.


A maioria das pessoas possui roupas no guarda-roupa que nunca usam - elas podem se tornar a peça preferida de alguém | Foto: reprodução /@provoparcascavel
A maioria das pessoas possui roupas no guarda-roupa que nunca usam - elas podem se tornar a peça preferida de alguém | Foto: reprodução /@provoparcascavel

Muitas dessas doações não se limitam à cidade cascavelense. “Além daqui, atendemos os distritos de Cascavel. Às vezes as pessoas não conseguem chegar até a cidade (…) então nós levamos os agasalhos e cobertores até o local onde estão e eles fazem a escolha; porque seria muito fácil a gente separar uma roupa “P”, “M” e “G”, mas a gente também pensa no que eles querem. Eles poderem escolher dá dignidade”, disse a psicóloga Aline. 


Quando abrimos o coração, ouvimos com atenção 


Equipe do Provopar de Cascavel | Foto: reprodução / @provoparcascavel
Equipe do Provopar de Cascavel | Foto: reprodução / @provoparcascavel

Para realizar o atendimento adequado, que as pessoas realmente merecem, uma grande equipe trabalha em prol disso todos os dias. O programa possui profissionais qualificados para recebê-las e auxiliá-las com comprometimento e atenção.

“Quando essas famílias chegam até o Provopar, elas chegam com grandes vulnerabilidades, às vezes não é só o frio, só a fome, elas vêm com outras atribuições da vida. Eu faço uma escuta qualificada e encaminho para o serviço necessário, como, por exemplo, o CRAS, Conselho Tutelar, agência do trabalho ou mesmo empresas que temos parceria. A minha função principal é integrar essas pessoas no mercado de trabalho”, explicou a psicóloga Aline. 

Para o Provopar conseguir ajudar na alimentação destas pessoas, há a cozinha social, que fica localizada na região do Interlagos e segue os mesmo critérios que usam para a retirada das roupas, com base no Cadastro Único. O local oferece de 350 a 400 refeições por dia, sendo um almoço livre, de segunda a sexta-feira.

“Isso aqui é uma benção. Imagina se não tivesse essa cozinha, o que seria de nós?”, relatou a dona de casa Maria Nunes Neves, ao documentário da Provopar. 

“Não é o que fazemos, mas quanto amor colocamos no que fazemos” 


Durante todos os anos que o programa atua em Cascavel, milhares de pessoas já foram ajudadas e, muitas delas, continuam sendo vistas e ouvidas até hoje. Contudo, mesmo realizando o trabalho com o coração aberto e sorriso no rosto, o que a equipe verdadeiramente deseja é que o local fechasse as portas para sempre. 

O nosso maior sonho é que as pessoas não precisem mais do Provopar, que ele pudesse parar de existir, que as pessoas não precisassem mais de um prato de comida, não precisasse mais de roupas nos tempos frios, que cada um tivesse seu autossustento. Mas como a gente sabe que isso é algo muito distante, nós vamos continuar sempre firmes e fortes ajudando a população - seja do nosso município ou, até mesmo fora, se precisar. Nós estamos de portas abertas para ajudar todos que precisam”, complementou Néia Alberton, coordenadora do Provopar. 

Ao questionar uma profissional que vive o dia a dia desta realidade, que realmente sabe o que é receber essas pessoas, acolhê-las e ouvi-las, podemos ter seu relato sobre o sentimento único de saber que, ao menos, pode fazer o que está ao alcance, sempre incentivando outras pessoas a também contribuírem, de fazer parte de uma comunidade que acolhe, que não fecha os olhos para a realidade, que não só enxerga o próximo, mas o vê como igual. 

“Trabalhar com o outro, acolher o outro, eu acho que faz mais bem para mim do que para a outra pessoa. A gente está trabalhando com o ser humano, né? As vulnerabilidades dessas pessoas, a falta de afeto… Às vezes vamos ter que dizer um não, mas como iremos dizer esse não? Temos que ter um jeitinho especial. Acho que trabalhar aqui no Provopar, para mim, é mais que uma função, eu recebo muito mais do que eu dou. Terminar um atendimento e ser abraçada, ou ouvir as pessoas falando ‘fui muito bem atendida’, conforta, não só a mim, mas a todos os trabalhadores daqui”, finalizou Aline.

Comments


  • Instagram
  • TikTok

Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

©2025 - Agência Abre Aspas - Todos os Direitos Reservados

bottom of page