Olhares que se voltam para o céu toda vez que a terra sente sede
- Kariny Camilo
- 8 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: há 7 dias
São três gerações que compartilham não só o solo, mas também a preocupação de quem espera colher bons frutos

Cada amanhecer é um novo convite para olhar para o alto. O sol escaldante aquece o tecido empoeirado da camisa, enquanto os olhos preocupados varrem o céu em busca de uma nuvem escura. Ao mesmo tempo em que a terra seca é observada na lavoura, três gerações - pai, filho e neto - compartilham não só o solo, mas também o mesmo sentimento: a frustração.
— O que você sente?
— O sentimento é que a gente cuida da terra, planta, como se fosse pra dar tudo certo. Aí vem a seca, e o investimento já tá feito. Sentimos frustração e tristeza - disse Lucivan Camilo, o mais jovem.
Denivaldo Camilo, a voz do meio, procura palavras para expressar a agonia que sente - a mesma que o acompanha todos os dias enquanto espera pela chuva.
— A gente vê a plantação morrendo e, então, vive olhando pra cima, porque não tem o que fazer. É só pedir... e confiar.
Enquanto isso, o pilar da família, João Camilo, aos 76 anos de idade, carrega nos ombros a preocupação com tudo e com todos.
— Eu fico preocupado por eles, porque tudo começa a dar errado - desabafa.
Na região agrícola do pequeno distrito de Palmitópolis, a seca já não é mais novidade. Das últimas dez safras, oito foram castigadas pela ausência de chuva. Duas delas, praticamente perdidas por completo.
Nessa história, passam os plantios, os ciclos, as colheitas - mas o que nunca passa é a preocupação. A espera vem vestida de dúvida, e a cabeça nunca repousa, calculando como salvar a próxima safra.
— Quando a colheita é afetada pela seca, como ficam as contas?
A resposta não demorou. Com a voz carregada de indignação, a geração mais jovem responde:
— Nem com meia produção a gente consegue pagar o que gastou pra plantar. Imagina nas safras em que perdemos quase tudo.
Mesmo com o apoio de seguros e programas de garantia do governo, a conta não fecha. O prejuízo se acumula.
— Sempre o gasto é muito maior do que o valor que a gente consegue receber.
Por mais que se esforcem, que cuidem da terra, que se desdobrem para tentar abraçar o mundo com as mãos, a matéria-prima desses empresários - a semente - é lançada em solo que fica a céu aberto. Sem proteção. Sem controle sobre os resultados.
Ainda assim, diante da vontade de desistir e jogar tudo para o alto, a esperança precisa germinar junto com a planta, toda vez que o grão é colocado na terra.
Afinal...
— No ano que vem, a gente tenta de novo, né?
Texto lindo, reflete um sentimento quase nunca notado…
Emocionante!!!
Texto lindo, parabéns Ka ❤️
Parabéns pelo texto amiga!
Kariny, que trabalho bonito você entregou aqui. O seu texto é quase uma oração silenciosa feita entre sulcos de terra seca e olhos cansados que ainda acreditam no amanhã. Denivaldo, Lucivan e João Camilo... é impossível não se comover com a força que vocês carregam. O que vocês vivem não é estatística ou manchete: é cotidiano, é história de vida. Aos leitores, deixo um convite: leiam com o coração aberto. Este texto nos convida a sair do conforto da cidade e olhar para o campo com outros olhos - olhos mais atentos, mais justos, mais gratos. Porque enquanto muitos esperam a chuva por conveniência, há quem espere por sobrevivência. Parabéns, Kariny. Continue escrevendo com essa escuta atenta e esse olhar…