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Olhares que se voltam para o céu toda vez que a terra sente sede

Atualizado: há 5 dias

São três gerações que compartilham não só o solo, mas também a preocupação de quem espera colher bons frutos


Denivaldo Camilo - das três gerações, o do meio. (Foto: Kariny Camilo)
Denivaldo Camilo - das três gerações, o do meio. (Foto: Kariny Camilo)

Cada amanhecer é um novo convite para olhar para o alto. O sol escaldante aquece o tecido empoeirado da camisa, enquanto os olhos preocupados varrem o céu em busca de uma nuvem escura. Ao mesmo tempo em que a terra seca é observada na lavoura, três gerações - pai, filho e neto - compartilham não só o solo, mas também o mesmo sentimento: a frustração.

— O que você sente?

— O sentimento é que a gente cuida da terra, planta, como se fosse pra dar tudo certo. Aí vem a seca, e o investimento já tá feito. Sentimos frustração e tristeza - disse Lucivan Camilo, o mais jovem.

Denivaldo Camilo, a voz do meio, procura palavras para expressar a agonia que sente - a mesma que o acompanha todos os dias enquanto espera pela chuva.

— A gente vê a plantação morrendo e, então, vive olhando pra cima, porque não tem o que fazer. É só pedir... e confiar.

Enquanto isso, o pilar da família, João Camilo, aos 76 anos de idade, carrega nos ombros a preocupação com tudo e com todos. 

— Eu fico preocupado por eles, porque tudo começa a dar errado - desabafa.

Na região agrícola do pequeno distrito de Palmitópolis, a seca já não é mais novidade. Das últimas dez safras, oito foram castigadas pela ausência de chuva. Duas delas, praticamente perdidas por completo.

Nessa história, passam os plantios, os ciclos, as colheitas - mas o que nunca passa é a preocupação. A espera vem vestida de dúvida, e a cabeça nunca repousa, calculando como salvar a próxima safra.

— Quando a colheita é afetada pela seca, como ficam as contas?

A resposta não demorou. Com a voz carregada de indignação, a geração mais jovem responde:

— Nem com meia produção a gente consegue pagar o que gastou pra plantar. Imagina nas safras em que perdemos quase tudo.

Mesmo com o apoio de seguros e programas de garantia do governo, a conta não fecha. O prejuízo se acumula.

— Sempre o gasto é muito maior do que o valor que a gente consegue receber.

Por mais que se esforcem, que cuidem da terra, que se desdobrem para tentar abraçar o mundo com as mãos, a matéria-prima desses empresários - a semente - é lançada em solo que fica a céu aberto. Sem proteção. Sem controle sobre os resultados.

Ainda assim, diante da vontade de desistir e jogar tudo para o alto, a esperança precisa germinar junto com a planta, toda vez que o grão é colocado na terra.

Afinal...

— No ano que vem, a gente tenta de novo, né?


17 hozzászólás


Solainy Camilo
Solainy Camilo
há 19 horas

Texto lindo, reflete um sentimento quase nunca notado…

Kedvelés

Solainy Camilo
Solainy Camilo
há 19 horas

Emocionante!!!

Kedvelés

Marijane Camilo
Marijane Camilo
há 5 dias

Texto lindo, parabéns Ka ❤️

Kedvelés

Parabéns pelo texto amiga!

Kedvelés

Kariny, que trabalho bonito você entregou aqui. O seu texto é quase uma oração silenciosa feita entre sulcos de terra seca e olhos cansados que ainda acreditam no amanhã. Denivaldo, Lucivan e João Camilo... é impossível não se comover com a força que vocês carregam. O que vocês vivem não é estatística ou manchete: é cotidiano, é história de vida. Aos leitores, deixo um convite: leiam com o coração aberto. Este texto nos convida a sair do conforto da cidade e olhar para o campo com outros olhos - olhos mais atentos, mais justos, mais gratos. Porque enquanto muitos esperam a chuva por conveniência, há quem espere por sobrevivência. Parabéns, Kariny. Continue escrevendo com essa escuta atenta e esse olhar…

Kedvelés

Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

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