O que realmente está por trás da alta dos alimentos no Brasil?
- Guilherme Lopes
- 29 de jun.
- 4 min de leitura
Apesar da desaceleração da inflação geral, o preço dos alimentos tira o sono dos brasileiros. No entanto, a expectativa de uma safra recorde e a queda do dólar acendem uma luz de alívio no horizonte.

A inflação de alimentos vem preocupando muita gente. Segundo dados do IPCA-15 do mês de abril, divulgados em 6 de junho, houve uma desaceleração da inflação geral, que apresentou alta de 1,23% em fevereiro, 0,64% em março e 0,43% em abril. No entanto, o grupo de alimentos e bebidas foi o que registrou a maior alta, com aumento de 1,14% — cerca de três vezes a taxa geral — respondendo por 60% da inflação do IPCA-15 de abril.
No caso da alimentação no domicílio, a alta foi ainda mais expressiva: entre março e abril, os preços subiram de 1,25% para 1,29%. O principal responsável foi o tomate, com alta de 30% no mês, após já ter subido 12% em março. Mas o que explica essa escalada?
As altas temperaturas no início do ano aceleraram o processo de maturação, o que inicialmente aumentou a oferta e causou uma queda nos preços. No entanto, esse fenômeno reduziu a disponibilidade nos meses seguintes, pressionando os valores para cima em março e abril. Felizmente, o preço do tomate já começou a cair no atacado com a chegada da safra de inverno, o que deve se refletir nas prateleiras dos supermercados em breve.
Outro vilão da inflação foi o café, que não deve dar alívio tão cedo. O economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, explica que o produto continua sendo motivo de preocupação devido à alternância entre uma safra boa e outra ruim. A quebra da safra no Vietnã no ano passado causou um desequilíbrio na oferta global, o que pode levar tempo para ser corrigido.
Para o economista André Braz, coordenador dos índices de preços da FGV IBRE, os principais fatores por trás da alta dos alimentos são o choque de oferta, a desvalorização cambial, o aumento das exportações e a forte demanda interna. Segundo ele, outros eventos — como a pandemia de 2020, a crise hídrica de 2021, a guerra de 2022, o câmbio volátil e os efeitos climáticos de 2024 — também impactaram o patamar dos preços dos alimentos. Mesmo com um alívio em 2023, a reversão completa desses aumentos exige tempo e vários fatores favoráveis: valorização do real frente ao dólar, boas safras e investimentos no campo.
Esses investimentos incluem melhorias em infraestrutura, como estradas e transporte, além de insumos mais baratos — sementes, adubos, fertilizantes — e maior acesso ao crédito rural. Essas medidas podem ajudar a conter a alta dos alimentos, conforme explica o economista.
Mas há também boas notícias: com a confirmação de uma boa safra no país, a expectativa é de um aumento de 10% em relação à anterior, o que deve contribuir para a acomodação dos preços. A safra de milho, por exemplo, afeta o custo da ração animal e, consequentemente, pode reduzir o preço de algumas proteínas.
Contudo, fatores externos podem complicar o cenário. O “tarifaço” promovido pelo presidente americano Donald Trump e sua política protecionista aumentam a demanda por produtos brasileiros — principalmente carne bovina. Com isso, cresce a exportação e, por consequência, o preço interno também sobe. Essa tendência já é visível no IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) de abril, divulgado em 3 de junho pela FGV IBRE, que registrou alta de 0,24% após uma deflação de 0,34% no mês anterior. O movimento foi consequência da reversão da trajetória do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que, após uma queda de 0,73%, teve alta de 0,13% em março.
Mesmo com a guerra comercial pressionando os preços de um lado, a recente queda na cotação do dólar tem gerado um impacto positivo, já que muitos produtos seguem valores internacionais. Ademais, há uma esperança para os próximos meses: historicamente, junho, julho e agosto costumam registrar inflação mais baixa. A expectativa é que esse padrão se repita, trazendo algum alívio ao bolso do consumidor.
A inflação de alimentos permanece como um desafio complexo, impulsionada por uma combinação de fatores climáticos, choques de oferta globais e desvalorização cambial. Apesar da desaceleração da inflação geral, o peso dos alimentos ainda é sentido intensamente. No entanto, a perspectiva de uma safra recorde no Brasil e a recente queda na cotação do dólar oferecem um vislumbre de alívio. Embora a vigilância seja crucial diante de cenários externos como a guerra comercial, a expectativa é que os próximos meses possam trazer uma tão esperada acomodação dos preços, oferecendo um respiro para o orçamento familiar.
Ainda assim, é preciso reconhecer que medidas pontuais não bastam: o Brasil precisa de uma política agrícola mais robusta e previsível, com foco em sustentabilidade, inovação no campo e proteção contra choques externos. Sem isso, seguiremos vulneráveis a uma montanha-russa de preços que penaliza, sobretudo, as famílias de baixa renda.
Mandou bem Gui, meus parabéns pelo texto garotinho.