O peso além da mochila: o fardo do sistema escolar
- Yudi Kajiyama Guimarães
- 2 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de jun.
Entre provas e promessas, o desafio de ser um bom aluno é cercado por expectativas

A escola é a base da sociedade em que vivemos. É nela que aprendemos as relações essenciais para a convivência em comunidade: compreender, interpretar e ler o mundo. Mas a escola vai além - é também o espaço onde muitos descobrem talentos e vocações que os acompanharão por toda a vida. Por isso, não é raro que o período escolar seja lembrado com saudosismo. Ainda assim, o modelo de ensino permanece quase inalterado, mesmo diante dos avanços tecnológicos e sociais das últimas décadas.
É verdade que as cerca de 178,5 mil escolas existentes no Brasil apresentam propostas pedagógicas variadas. No entanto, a pressão exercida sobre os 47,3 milhões de estudantes matriculados é praticamente a mesma - como revelam os dados do Censo Escolar de 2023, realizado pelo Ministério da Educação (MEC).
Segundo a CNN Brasil, todos os anos milhares de alunos abandonam a escola. Apenas em 2023, mais de 9 milhões de jovens deixaram os estudos sem concluir a educação básica. As razões são diversas, mas entre elas se destaca uma visão de futuro enfraquecida.
Em um sistema que define o destino dos estudantes com base em boletins e provas padronizadas - que favorecem uns e prejudicam outros - muitos se sentem desmotivados e injustiçados.
Enzo Vinícius Dias Cesar, estudante do segundo ano do ensino médio, relata o impacto emocional das avaliações. “É desanimador tirar uma nota considerada ruim. Muitas vezes, você se sente incapaz e impotente naquela matéria. Mesmo indo bem em outras, sua mente foca no erro, criando um trauma de ser mal avaliado novamente”, comenta.
O sistema de avaliação, para muitos, é desigual e deixa marcas. Cada aluno possui talentos únicos. Exigir que um rato escale árvores é tão incoerente quanto esperar que alguém excelente em História também se destaque em Matemática. Temos habilidades diferentes, e nem todas serão úteis na vida adulta. No entanto, o modelo educacional ainda cobra desempenho equilibrado em todas as áreas.
Como costumo dizer: “se você cobrar de um peixe que ele corra rápido, ele vai passar a vida toda achando que é medíocre".

Um estudo realizado pelo Instituto Ayrton Senna em parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo revelou que 70% dos estudantes paulistas relatam sintomas de depressão e ansiedade. Diante disso, é urgente repensar a rotina escolar para preservar a saúde mental dos alunos. A sobrecarga atrapalha o rendimento e, muitas vezes, coloca nos ombros do estudante a culpa por um eventual fracasso - como se o problema estivesse sempre nele, e não no modo como lhe foi ensinado.
Essa crítica não é nova. Diógenes de Sínope, filósofo da Grécia Antiga e discípulo de Sócrates, já apontava falhas nas instituições educacionais de sua época. “A sabedoria serve de freio à juventude”, dizia. Diógenes, conhecido como “O Cínico”, não apenas se opunha às ideias de seu mestre, mas também antecipava debates atuais sobre o papel do conhecimento. “A sabedoria serve de consolação à velhice, de riqueza aos pobres e de ornamento aos ricos”, escreveu.
Ou seja: a sabedoria, quando bem cultivada, pode ser tanto ferramenta de libertação quanto de opressão - a depender de como é transmitida.
Leonardo do Espírito Santo Locatelli, hoje estudante de Medicina da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, lembra das pressões vividas no ensino médio. “Minha rotina no terceiro ano foi uma loucura. Tinha aula de manhã e à tarde, e ainda viajava para outra cidade para estudar. Chegava exausto em casa, mas mesmo assim abria os livros para estudar mais, porque os professores sempre diziam que só assim conseguiríamos entrar em uma boa faculdade”, relata.
Apesar do resultado, Leonardo reconhece o impacto dessa cobrança. “Foi necessário, mas não saudável. Eu me sentia muito cansado e ansioso”.
Esse cenário se repete em diversas regiões do país. As exigências para “virar alguém na vida” recaem sobre os estudantes, impostas por escolas, famílias e até por eles mesmos. Mas será que o objetivo é realmente o aprendizado?
Leonardo compartilha uma reflexão amarga: “Na escola onde estudei, a cobrança era para que passássemos em boas universidades e cursos concorridos. Depois entendi que isso também servia como propaganda da própria instituição”.
Ele conclui com um desabafo: “Essa pressão para gerar publicidade mostra que, muitas vezes, os estudantes não significam nada para essas escolas. O que importa é manter os números e garantir mais mensalidades”.
Diante disso, fica a pergunta: até quando o modelo educacional continuará causando ansiedade, frustrações e desistências? Até quando a nota será espelho da autoestima?
Quando o boletim se torna espelho da autoestima, cada nota baixa é uma ferida aberta.
Parabéns pelo excelente texto Yudi.
👏👏
Ótimo texto Yudi! Parabéns.
ótimo!
Ótimo texto, parabéns!