Heróis da rua: a história de quem não vira as costas para inocentes
- Yudi Kajiyama Guimarães
- 29 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 5 de mai.
Instituições e profissionais que salvam animais em situação de rua no quarto país que mais abandona bichos no mundo
O início da década de 2020 está marcado pelos números alarmantes de abandono de animais. Poucos são os pets que têm o privilégio de estar incluídos em famílias brasileiras. Dentre a população de 121,3 milhões de cães e gatos, 25% foram abandonados. Deles, apenas 184 mil foram resgatados por Organizações Não Governamentais (ONGs) e grupos de proteção animal.
“Velhinho” e o “Caramelo” foram encontrados em situação de rua e adotados por um freteiro de Cafelândia, cidade localizada no oeste paranaense. Claudir José Grabner conheceu o Velhinho por acaso, na rua de sua casa. Percebeu o pobre animal vagando sem rumo e, ao investigar, notou que havia sido abandonado por uma família que morava na mesma rua. Como conta Claudir, os vizinhos foram embora e deixaram o pobre animal, que estava doente, com pulgas, carrapatos e faminto. O motorista de frete deu uma nova família ao cão, que, hoje, está há oito anos recebendo os carinhos e cuidados da família Grabner.
Situação que não é diferente da do Caramelo, o segundo cachorro adotado das ruas pelo homem. Foi em frente à escola onde sua esposa trabalha que eles se conheceram. Ao levar sua amada ao trabalho, percebeu a presença do cãozinho em frente à instituição de ensino. Porém, ao acreditar que seu dono iria aparecer, Claudir apenas o alimentava. Com o passar da semana, o animal se manteve no mesmo lugar, como se fosse um sinal, esperando para que o freteiro o adotasse. “Sou apaixonado por animais, e poder ajudar a salvar a vida de alguns é muito prazeroso. Hoje, todas as vezes que chego em casa de viagem, eles são os primeiros a me receber, vindo ao encontro do meu caminhão”, comentou Claudir.
O senhor ainda conclui: “É um prazer incomparável ver o animal te acompanhar e se adaptar a ter uma família. Aqueles que abandonam esses seres deveriam se colocar no lugar deles e ter mais responsabilidade, procurar alguém que possa ajudar, não simplesmente abandoná-los em qualquer lugar”, salientou.

Primeira caridade: responsabilidade
Para a médica veterinária da clínica Aquaripet de Toledo, Julia Gabriela Pugens, o principal motivo do abandono se dá por conta da percepção de que o animal requer um custo a mais que a alimentação. “Geralmente, quando os pets ficam doentes, os donos entendem que será um gasto a mais, além da alimentação. Por isso, infelizmente, grande parte acaba por abandonar os animais”, comentou.
Os desprezados muitas vezes são atendidos em clínicas veterinárias em situações críticas, de acordo com Julia. É um atendimento delicado, em que o animal se encontra com diversas comorbidades, o que gera frustração e tristeza da parte do profissional.
“Sempre que posso, faço a minha parte e tento ajudar. É o nosso dever, como médicos veterinários, promover a saúde e o bem-estar animal. Eles estão suscetíveis a tudo: à falta de higiene, má alimentação, exposição ao frio e à chuva - elementos que podem piorar o quadro do animal abandonado. Eles até aprendem a viver na rua, mas é uma luta diária pela sobrevivência: encarar a fome, a sede, o medo e a dor. É muito triste, nenhum ser vivo merece ter uma vida assim”, comentou a veterinária.
Apesar de o abandono de animais ser crime desde 1998, a legislação recebeu uma atualização em 2020, na qual a pena de detenção foi aumentada para até cinco anos. Segundo a veterinária, a maioria desiste de adotar pelo excesso de burocracia. “Muito se deve à falta de controle com a castração. Vários animais de rua não são castrados e acabam se reproduzindo sem controle. Lógico que isso não é a principal causa dos abandonos, pois essa atitude vai da índole e do caráter do tutor”, concluiu a médica veterinária Julia.
ATENÇÃO: Imagem sensível
Segunda caridade: paixão em ajudar
As instituições de proteção animal e Organizações Não Governamentais (ONGs) são os “heróis corajosos”. Essas organizações oferecem uma nova chance aos pets. Porém, contam com um grande desafio: os voluntários. “Muitas pessoas desistem, por conta do trabalho excessivo e também por não acreditarem mais na possibilidade de mudança”, dissertou a presidente de uma ONG da região.
A autoridade da organização, que preferiu não se identificar, comentou que a maior dificuldade dessas instituições de caridade é fazer com que projetos de incentivo à adoção ou outros que celebram a causa animal continuem em uma crescente. “O trabalho com as causas animais requer seriedade. É necessário pensar nas atividades, ações e eventos para que sejam eficazes”, dissertou.
A presidente concluiu que, apesar dos obstáculos, é um orgulho poder ajudar animais indefesos.
“Olhar as histórias nos faz pensar que realmente vale a pena passar por tantas dificuldades, tantos desafios. Observar um animal em sofrimento e depois ver a alegria nesse mesmo olhar vale muito a pena”, comentou a presidente.
Enquanto muitos seguem ignorando o sofrimento dos animais, há quem pare, acolha e ame - mesmo quando o mundo vira as costas. Que a empatia não seja exceção, mas regra.
Precisamos de mais pessoas como o Claudir
Parabéns pelo Texto Yudi, uma reportagem muito interessante.
Yudi, que reportagem tocante, sensível e urgente. Você deu voz a uma causa que, embora silenciosa para muitos, grita todos os dias nas ruas do Brasil. O seu texto é um tributo a quem resiste ao abandono com gestos de cuidado, como Claudir, e a quem dedica a vida a salvar aqueles que a sociedade descarta. A reportagem denuncia uma realidade cruel, mas também ilumina caminhos de empatia, responsabilidade e amor - pilares fundamentais para uma convivência mais justa entre humanos e animais. Parabéns por trazer à tona uma pauta tão necessária, com dados, humanidade e compromisso ético. Que mais reportagens assim ajudem a transformar a compaixão em política pública e o descaso em ação.
texto top bb
Que texto incrível Yudi! Parabéns