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Geração Z: interesses por trás da demissão

Zoomers enfrentam altos índices de demissão e podem revolucionar o mercado de trabalho 


Mais de 740 mil demissões voluntárias foram registradas em julho de 2024, o maior número desde janeiro de 2020 | Foto: IBRE
Mais de 740 mil demissões voluntárias foram registradas em julho de 2024, o maior número desde janeiro de 2020 | Foto: IBRE

O número de brasileiros que pediram demissão em 2024 bateu recorde. De acordo com dados da Fundação Getulio Vargas, o país registrou um pico de 6,5 milhões de pedidos de desligamento entre janeiro e setembro do ano passado. Os nascidos entre 1995 e 2010, integrantes da chamada geração Z, lideraram o ranking de rescisões - tanto por iniciativa própria quanto por decisão do empregador.

Revistas voltadas ao mundo corporativo, como a Forbes, destacam a perspectiva dos empresários. Em janeiro deste ano, a publicação trouxe um artigo intitulado “Demissão por vingança: tendência impulsionada pela GenZ deve alcançar pico em 2025”. Segundo o texto, essa modalidade de desligamento seria motivada pela insatisfação dos jovens com a falta de flexibilidade e de oportunidades reais de crescimento dentro das empresas.

A chamada “demissão por vingança” é descrita como uma atitude abrupta, geralmente tomada por jovens da geração Z que, frustrados com experiências negativas, deixam seus empregos como forma de protesto. O relatório Worklife Trends 2025, da plataforma Glassdoor, aponta que 65% dos profissionais se sentem estagnados em suas funções atuais — o que pode impulsionar uma onda de demissões motivadas por raiva ou desilusão ainda maior nos próximos meses.

A Robert Half, consultoria global especializada em recrutamento, realizou um estudo para identificar os principais motivos das demissões voluntárias entre os jovens em 2024. O levantamento revelou que as melhores propostas de emprego em outras empresas lideram o ranking de motivações, com 78% das respostas. Em seguida, aparecem a falta de perspectivas de crescimento (40%) e os salários abaixo da média de mercado (24%).

Além disso, o crescimento do empreendedorismo também tem influenciado esse movimento. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços mostram que o número de empresas abertas por ano mais que dobrou na última década - de 1,89 milhão, em 2014, para 3,87 milhões, em 2023. Muitos jovens preferem deixar seus empregos formais para apostar no próprio negócio, em busca de mais liberdade e autonomia.

Juliana Ferrari, psicóloga organizacional, explica que há uma mudança clara no perfil dos novos profissionais.

“As gerações mais jovens, especialmente a geração Y [nascidos entre 1981 e 1996] e a geração Z [nascidos entre 1997 e 2010], buscam empregos alinhados aos seus valores pessoais e priorizam a flexibilidade, incluindo a possibilidade de trabalho remoto”, afirma.

No entanto, essa nova postura não tem sido bem recebida por muitos empregadores, que enxergam tais atitudes como falta de comprometimento. O que para a geração anterior era visto com naturalidade - como jornadas exaustivas, ambientes tóxicos e ausência de escuta - hoje é enfrentado com resistência e, muitas vezes, rejeitado pelos mais jovens. A reação a essas condições, embora legítima, tem sido rotulada como “rebeldia”.

A geração Z é frequentemente criticada, mas raramente tem voz para se defender fora do ambiente digital. O espaço na mídia e nos debates empresariais costuma ser reservado aos empregadores, enquanto os trabalhadores jovens - muitas vezes chamados de indisciplinados, preguiçosos ou mimados - são silenciados ou mal interpretados.

Especialistas apontam que essas tensões são, em grande parte, reflexo de conflitos geracionais - choques de valores, hábitos e expectativas entre profissionais de diferentes épocas. Ainda assim, por trás das demissões há algo mais profundo do que simples insatisfação: há exaustão.

Segundo a pesquisa “GenZ Além dos Rótulos”, publicada pelo Instituto da Oportunidade Social (IOS), 64% dos jovens desejam ocupar cargos de liderança nas áreas em que estudam, e 40% têm o desejo de empreender. O estudo também mostra que 69% ainda não concluíram o ensino médio e, entre eles, 88% querem terminar os estudos e continuar se especializando.

É desgastante investir anos em formação, buscar conhecimento técnico e emocional, e ainda assim não ser reconhecido - nem sequer ganhar o suficiente para cobrir os custos básicos da vida.

Não é justo - nem eficaz - rotular uma geração inteira com base em estereótipos. Pessoas são únicas, com histórias, expectativas e formas de reagir distintas. Algumas podem seguir os moldes da geração anterior; outras buscarão romper com eles e construir algo novo, ainda que isso seja malvisto. Em muitos casos, a mudança vem justamente de quem não se conforma.



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Parabéns pelo texto Luiza.

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Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

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