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“Eu estou no caminho certo, eu nasci desse jeito”: muito mais do que assumir publicamente, é ter orgulho de ser você mesmo

Em um mundo regado de preconceitos e estereótipos, contar histórias de jovens LGBTQIA + que lutam todos os dias para sobreviver acaba sendo um conforto


“Mesmo que as deficiências da vida te façam sentir deslocado, perseguido ou importunado, exalte e ame a si mesmo hoje, pois, meu bem, você nasceu desse jeito”.

Lady Gaga


Movimento LGBTQIA +  prega a igualdade entre as pessoas, independente de gênero, orientação sexual, cor ou raça | Crédoto da foto: Pinterest
Movimento LGBTQIA +  prega a igualdade entre as pessoas, independente de gênero, orientação sexual, cor ou raça | Crédoto da foto: Pinterest

Em dos países onde mais se mata pessoas queer no mundo, ter orgulho é forma de protesto. Se orgulhar do que? O que se aceitar como pessoa tem a ver com orgulho? O que esse orgulho reflete?


A negação de si mesmo é o primeiro passo para uma vida frustrada. Se eu for quem eu sou, as pessoas ainda vão querer estar do meu lado? Se eu contar para os meus pais quem eu sou, de verdade, eles vão me aceitar? Eles vão me mandar embora de casa? Eles ainda vão me amar?


Estudos realizados nos Estados Unidos da América (EUA) apontam que entre homens e mulheres da população LGBTQIA +, a taxa de ideação suicida é de 36% e 42% respectivamente, isso baseado em níveis de aceitação e suporte em diferentes ambientes, discriminação, prejulgamento e preconceito.


Em uma realidade onde a própria comunidade não se aceita, que garantia essas pessoas têm de proteção? O que motiva elas a viver?


Clube do Pônei Rosa (aceitação)


“Ouvi dizer que tem um lugar especial, onde garotos e garotas podem ser rainhas todos os dias”.

Chappell Roan


Semblante corajoso esconde um  exemplo de alma e coração, alguém que  deixa todos à sua volta sempre felizes com suas piadas e seu senso de  humor | Crédito da Foto: Arquivo Pessoal
Semblante corajoso esconde um  exemplo de alma e coração, alguém que  deixa todos à sua volta sempre felizes com suas piadas e seu senso de  humor | Crédito da Foto: Arquivo Pessoal

Com olhos verdes vibrantes e beleza de sobra, Victória Alencar se apresenta como uma mulher lésbica.


“Eu acho que eu nunca precisei descobrir que eu gostava de mulheres, sempre foi muito natural pra mim isso”, afirma a jovem acadêmica da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), que está se graduando em Biologia.

A naturalidade como a descoberta foi para ela, se mostra na confiança com que fala sobre o assunto. Vic (como prefere ser chamada) fala que desde quando era uma criança já percebia a preferência pelo mesmo gênero, e que o seu processo de aceitação foi difícil.


Ela cita a heterossexualidade compulsória, que consiste na pressão social e cultural que obriga as pessoas a assumirem a heterossexualidade como padrão, na maioria das vezes de forma inconsciente, levando-as a restringir a liberdade de expressar sua orientação sexual.


“Eu acabei me envolvendo com homens mesmo sem gostar, pois insistia pra mim mesma que eu era bissexual, tanto que eu me assumi como bissexual para a minha mãe”. 

O seu pai sempre soube desde o começo, e sempre aceitou, mesmo sem ela ter falado sobre isso com ele, porém, o medo era sua mãe. Vinda de uma família religiosa que perpetuava formas de preconceito estipuladas pela ignorância, a mãe dela já havia dito falas preconceituosas, o que preocupava muito Vic. Mas, quando ela contou para a sua mãe, a resposta foi inesperada: sua mãe já sabia! Ela se moldou muito para aceitar o estilo de vida de sua filha, e hoje elas têm uma relação de muito carinho e confiança.


Está tudo bem chorar (preconceito)


“Eu não preciso saber seus motivos, está tudo bem. Acho que às vezes você esquece, eu te conhecia melhor”.

Sophie


Uma aula de imposição e respeito, ele sempre lidou com todas as suas questões muito bem. Se alguém o desrespeita, ele não aceita calado e proclama a sua verdade | Crédito da Foto: Arquivo Pessoal
Uma aula de imposição e respeito, ele sempre lidou com todas as suas questões muito bem. Se alguém o desrespeita, ele não aceita calado e proclama a sua verdade | Crédito da Foto: Arquivo Pessoal

O sorriso enorme no rosto, as piadas na ponta da língua e o “cabelinho tigela” característico nos apresentam Matheus Klein. Desde os 11 anos, ele já sabia que era um homem e fez questão de não esconder isso de ninguém. A primeira reação de seus pais foi de preocupação. Dentro de casa ele estaria seguro, o apoio era incondicional, todos estavam ao seu lado e ele sentia essa segurança. Mas e fora de casa?


Ele conta que os maiores problemas com o preconceito aconteceram no Ensino Médio, tanto dos colegas quanto dos professores. Uma situação específica desse período foi quando um professor solicitou aos meninos da turma para pegarem todos os livros didáticos e, em forma de deboche, chamou o nome dele alegando que se ele era homem de verdade, ele iria conseguir trazer todos os livros.


“Eu via como uma testagem, tipo, ‘já que você é homem faça isso’”. 

E com os colegas era mais complicado ainda. Ele era invalidado o tempo inteiro. Diziam que ele jamais seria um homem, pois não possuía um pênis.


"Eles falavam que pelo menos ele tinha um e que era mais homem do que eu por isso”.

O mesmo menino já havia armado uma situação inquietante. Ele viu Matheus entrando no banheiro masculino e contou a um supervisor que havia uma menina lá dentro, o constrangendo. 


Math está indo atrás do processo para a mudança de nome, que é desnecessariamente burocrático e leva muito tempo, mas ele não está disposto a desistir.


“Ter esse reconhecimento na sociedade é algo básico para a gente conseguir viver, porém, não é acessível para todo mundo”.

Garoto das coisas estranhas (autoconhecimento)


“Eu sou o garoto das coisas estranhas. Eu não sou a garota que você pensa”.

Ana Frango Elétrico

Após perceber através de estilo e vivências, a descoberta da não-binariedade está vindo aos poucos e com o apoio de seus amigos isso acaba sendo bem mais fácil | Crédito da Foto: Arquivo Pessoal
Após perceber através de estilo e vivências, a descoberta da não-binariedade está vindo aos poucos e com o apoio de seus amigos isso acaba sendo bem mais fácil | Crédito da Foto: Arquivo Pessoal

Com um estilo invejável, senso crítico apurado e muito carisma, Cláudia Pauli, de 22 anos, conta que sempre foi muito diversificada em todas as áreas de sua vida. Na infância, ao mesmo tempo que brincava com bonecas, também brincava com carrinhos, e no presente, transita entre croppeds e maquiagem para bonés e calças largas.


“Não que isso defina o gênero de ninguém, mas fez eu perceber que eu não me sentia como uma mulher”.

A descoberta verdadeira veio a pouquíssimo tempo, cerca de 1 ano,  após pesquisas e autoconhecimento, foi se sentindo confortável para contar para os seus amigos. Houve ainda uma situação onde uma pessoa se referiu à Cláudia no pronome masculino o que a fez se sentir muito bem.


“A moça me chamou de ele e depois me pediu desculpas achando que eu tinha me ofendido, mas na verdade eu tinha ficado muito feliz dela ter me ‘confundido’ com um homem”.

A não-binariedade ainda é um conceito relativamente novo, o que leva as pessoas a não entenderem muito bem como funciona, fazendo com que perpetuem discursos preconceituosos, às vezes sem intenção, e outras vezes por pura ignorância, porém, existem os que fazem propositalmente.


“A própria comunidade invalida pessoas não-binárias”, enfatiza.

Ainda que muito bem resolvida em sua vida pessoal, Claudia ainda passa por momentos onde há piadas em relação à sexualidade/gênero em seu ambiente social, mas que a partir do autoconhecimento, ela consegue lidar com isso da melhor forma possível.


Eu vou sobreviver (invalidação)

"Passei tantas noites sentindo pena de mim mesmo, como chorei, mas agora mantenho minha cabeça erguida”.

Gloria Gaynor


Lente da câmera mostra a espontaneidade de alguém que guarda muito talento e carinho em seu coração | Crédito da Foto: Arquivo Pessoal
Lente da câmera mostra a espontaneidade de alguém que guarda muito talento e carinho em seu coração | Crédito da Foto: Arquivo Pessoal

Atrás de uma personalidade contagiante e um semblante muito esbelto, mora Guilherme Elesbão, um jovem de 18 anos, amante da arte e bissexual. Ele conta que a percepção da bissexualidade veio lá pelos 8 anos de idade, quando ele percebeu que além das meninas da escola, ele gostava dos meninos também.


“Eu tive aquele negócio de ajoelhar no chão e pedir pra não ser assim, pra que Deus tirasse aquilo de mim”. Diz ele que por muito tempo reprimiu a si mesmo por conta da igreja e do senso comum.

A realização de que isso não era um problema, viria apenas no ensino fundamental 2, quase no ensino médio.


Por se interessar por “divas pop”, usar gírias consideradas “gays”, é comum as pessoas terem dúvidas sobre a sexualidade dele, o que não o incomoda, porém, em questões românticas isso acaba virando uma insegurança.


“Eu sei que se eu chegar em uma menina na balada ela vai perguntar ‘ué, mas você gosta de mulheres?’, e isso acaba me impedindo um pouco de viver as coisas”.

Estudos levantados pelo American Institute of Bisexuality demonstram que o preconceito vindo de pessoas heterossexuais é maior contra bissexuais do que contra lésbicas e gays.


Na realidade LGBTQIA +, o afeto é mitigado por conta do estereótipo da heteronormatividade, ou seja, um homem gay/bissexual que não é aceito e reprime sua orientação sexual por medo, vergonha ou qualquer outro motivo, é induzido a casar-se com uma mulher para que eles gerem filhos e formem a família tradicional. Já na questão sexual, tudo é muito dado, todos estão sedentos o tempo inteiro por afeto, prazer e momentos de intensidade, o que leva jovens homossexuais a acreditar que uma vida a dois duradoura, é quase impossível. 


Eu nasci desse jeito (orgulho)


“Eu sou linda do meu jeito, porque Deus não comete erros, eu estou no caminho certo, eu nasci desse jeito”.

Lady Gaga


Pauta LGBTQIA + vai muito além de direitos previstos em lei e de visibilidade. É ela que garante uma vida, sendo esta com qualidade, respeito e muito amor | Crédito da Foto: Arquivo Pessoal
Pauta LGBTQIA + vai muito além de direitos previstos em lei e de visibilidade. É ela que garante uma vida, sendo esta com qualidade, respeito e muito amor | Crédito da Foto: Arquivo Pessoal

O orgulho é muito mais do que se vestir como quiser. É muito mais do que ver uma representação em uma mídia televisiva. Mesmo com todas as mudanças que a sociedade vem passando nos últimos anos, ainda existe um caminho muito longo a ser percorrido pelas pessoas queer. Há muito o que ser conquistado, celebrado e o mais importante: vivido!


Cada dia a representatividade vem aumentando, de pouco em pouco. Já é muito comum ler livros que contam histórias de romance entre pessoas do mesmo gênero, assistir filmes onde a representação de pessoas transsexuais não é mais estereotipada, e sim como personagens comuns na trama, desenhos animados onde questões de sexualidade e gênero são tratadas com naturalidade e aceitas pelo público geral e é claro, todos os feitos já conquistados pela comunidade sendo mostrados em jornais, revistas e redes sociais.


Então, voltamos à pergunta do começo: se orgulhar do que? O que se aceitar como pessoa tem a ver com orgulho? O que esse orgulho reflete? É o orgulho de proclamar a sua verdade, de amar sem medo. E esse amor não é romântico, mesmo ele até pode se fazer presente. É o amor próprio, é ter orgulho de si mesmo, orgulho de combater e vencer seus demônios internos todos os dias e contar com a ajuda de amigos e familiares para combater os demônios externos.



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Como diz a canção do mestre Lulu Santos, consideramos justa toda forma de amor, parabéns pelo seu texto meu amigo luís, você é uma pessoa incrivel.

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Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

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