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Dia da Imprensa: olhando pessoas ao longo da história

Atualizado: 2 de jun.

Jornalismo segue informando, relatando e sendo instrumento para a manutenção da democracia no país


 Dia da Imprensa, instituído em 1999, destaca o jornalismo como agente social e democrático | Foto: Murilo Vieira Santos
 Dia da Imprensa, instituído em 1999, destaca o jornalismo como agente social e democrático | Foto: Murilo Vieira Santos

O barulho das teclas, o entra e sai de repórteres, as conversas cruzadas sobre política, tragédias e curiosidades do cotidiano. Iloni Rodrigues viveu tudo isso nas redações de jornais impressos de Cascavel (PR), especialmente no início de sua carreira como revisora e, mais tarde, redatora do jornal O Paraná, ainda durante o período da Ditadura Militar. Sua trajetória pessoal se entrelaça com o surgimento da imprensa na cidade - e com as transformações do jornalismo no Brasil.

“A redação era uma festa. A gente trocava muita informação, conversava muito. Tínhamos redações grandes. Um fazia polícia, outro fazia política, outro fazia esporte... era uma redação cheia mesmo”, lembra Iloni.

Para além do ambiente efervescente, ela também conviveu com a censura. Algumas reportagens sequer chegavam a ser publicadas, principalmente, quando envolviam nomes ligados a interesses empresariais dos próprios veículos. “Você não tinha liberdade completa para publicar. Sabia quais os assuntos poderiam sair sem aprovação. Outros, não. Tinham que ser levados à direção”, relata.

Criatividade, no entanto, era uma forma de resistência. “Sempre fomos muito criativos. Tem assuntos que você pode levar de uma forma que não pese tanto, e que passe despercebido por quem não é da área”, conta. Para Iloni, o jornalista é mais do que um profissional: é um elo entre a população e o poder. “A gente vai atrás de cobrar, sempre foi assim. E não vai mudar. O jornalista pode cobrar, e pode trazer resultados para a comunidade”.


Contar histórias para seguir evoluindo


Mais de quatro décadas depois de Iloni, uma nova geração encara o jornalismo com outras ferramentas, mas com o mesmo desejo de contar histórias. É o caso de Gabriel Portella, jornalista formado em 2021, que atua nas áreas de assessoria de imprensa, marketing e comunicação criativa. “A humanidade evoluiu por causa das histórias. Isso é uma tese que eu defendo com muita certeza”, diz. Para ele, contar histórias é o que move a profissão - e a sociedade. “O jornalismo, desde o seu surgimento, tem uma função documental. Não à toa, o jornal impresso é um documento. Muitas vezes, as coisas precisam estar nele para fins de comprovação histórica”.

Gabriel acredita que o jornalismo precisa resgatar o essencial: filtrar o que é, de fato, noticiável, e valorizar personagens que poderiam ser esquecidos pelo tempo. “A gente precisa olhar para onde ninguém está olhando. Com quem as pessoas não estão falando? O que o mundo não está vendo?”.


A pauta que vem da rua


Essa mesma inquietação também move Agnes Arruda, jornalista e professora da Universidade de Mogi das Cruzes. Com duas décadas de experiência, ela atua em projetos ligados à educação, ciência e ativismo. Para ela, o jornalismo precisa estar mais alinhado aos dilemas sociais. “Com as histórias, com as pessoas, com aquilo que a rua revela pra gente”.

Segundo Agnes, o jornalismo de maior impacto hoje é o que nasce nos territórios - o chamado jornalismo alternativo ou de comunidade.

“A imprensa alternativa não é só uma alternativa ao mainstream. Ela faz sentido para grupos específicos, em momentos específicos. Promove uma transformação muito mais íntima. O conteúdo chega de forma natural, cotidiana”.

Agnes colaborou com o laboratório de jornalismo “Énois”, que atua com comunicação independente em periferias brasileiras. “Eles trabalham justamente com essa proposta de transformação social pela comunicação. São veículos mais fiéis à sua missão, ao seu projeto editorial, à visão de mundo que querem passar”.


Desafios de sempre, precarização de agora


Apesar do potencial transformador, o jornalismo enfrenta desafios persistentes. A sustentabilidade financeira e a precarização do trabalho são apontadas por Agnes Arruda como entraves estruturais. “Todo mundo tem um celular hoje, mas isso não significa que fazer jornalismo deixou de ser uma profissão. O jornalista precisa ser remunerado, o fotógrafo também. É um trabalho”.

Desde que o Supremo Tribunal Federal derrubou a exigência do diploma, em 2009, a categoria viu suas condições de trabalho se fragilizarem ainda mais. “Eu, como jornalista, nunca tive carteira assinada. Sempre trabalhei como PJ. Isso é reflexo de um lobby político muito forte”, analisa Agnes.

Dados divulgados pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em abril deste ano mostram queda no número de profissionais registrados formalmente, com aumento de contratos via pessoa jurídica ou freelancers - um reflexo direto da digitalização e da precarização das relações de trabalho.

Para Gabriel Portella, o excesso de informações dos dias atuais exige mais do que técnica: requer sensibilidade. “É preciso saber contar boas histórias. Dar voz não é sobre quantidade, é sobre representatividade. E ética é o mínimo”.


Censura, ontem e hoje


Iloni Rodrigues também acredita que a censura, embora menos explícita, ainda existe. “As empresas também cerceiam algumas coisas, hoje em dia”. Se antes eram os censores do regime militar, hoje são os interesses políticos, econômicos e comerciais que definem o que pode ou não ser publicado.

Agnes Arruda valida essa visão. Para ela, veículos tradicionais costumam priorizar resultados de mercado, enquanto a imprensa alternativa foca no público. Isso interfere diretamente nas pautas e nas abordagens.


Por que lembrar o Dia da Imprensa?


Comemorado em 1º de junho, o Dia da Imprensa marca a primeira circulação do Correio Braziliense, em 1808, mas vai muito além de um marco histórico. Celebra também o papel do jornalismo como instrumento de cidadania, transformação e memória coletiva.

Em tempos de mudanças tecnológicas, ataques à democracia e disputas de narrativa, lembrar da coragem de profissionais como Iloni Rodrigues, da ousadia dos jovens comunicadores e da resistência da mídia alternativa é primordial. Porque, como resume Iloni,

“O jornalista é o elo entre o povo e o poder. E esse elo precisa continuar existindo”.

Primeira edição do “Correio Braziliense”, produzido por Hipólito da Costa, foi publicada em 1808 e foi um importante fator no processo de Independência do país | Foto: Gazeta do Povo
Primeira edição do “Correio Braziliense”, produzido por Hipólito da Costa, foi publicada em 1808 e foi um importante fator no processo de Independência do país | Foto: Gazeta do Povo

15 Comments


Excelente texto! Parabéns, Murilo! Meu jornalista preferido!

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Jornalismo é e sempre será necessário, parabens pelo texto muito importante e muito bom Murilo.

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Parabéns pelo excelente texto, Murilo! 👏👏

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Sou suspeita a falar, mas o jornalismo é NECESSÁRIO! Ainda mais em uma era cheia de desinformação. Mais do que nunca, precisamos de um jornalismo sério e comprometido, que garanta acesso a fatos, dê visibilidade a vozes silenciadas e fiscalize o poder. Não é à toa que tantas vezes tentam desacreditar a imprensa, pois um jornalismo forte incomoda ao revelar o que muitos querem esconder.

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Ótimo texto Murilo!

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Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

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