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Cores além das fronteiras

Torcedores de times fora do Brasil tem se tornado cada vez mais comuns atualmente


Grupo de torcedores do Bayern de Munique em Nova Iorque comemorando um título do Campeonato Alemão | Foto: reprodução @FCB_NYC
Grupo de torcedores do Bayern de Munique em Nova Iorque comemorando um título do Campeonato Alemão | Foto: reprodução @FCB_NYC

Entender uma paixão, em diversos aspectos, é uma tarefa dificílima. É enigmático, é curioso e desperta a atenção de quem ouve. João Aguiar Neto é baiano de Salvador. Com seus 50 anos, é jornalista e uma de suas principais paixões é o futebol. Quando criança, ele se lembra de brincar na rua com os amigos e familiares, que começaram a cultivar  no pequeno João a paixão pela bola. 

“Acredito que, na minha geração —  ou na geração da minha idade, o futebol sempre vem de um avô, sempre vem de um pai”.

Foi ouvindo a saudosa era do rádio que João escolheu seu clube do coração: o Flamengo. A influência veio de seu pai, flamenguista fanático que inspirou a maioria de seus descendentes a seguir o mesmo caminho. 

Caberiam duas paixões em um só coração? O baiano não imaginava que isso fosse possível. Quando, na década de 90, quase por acaso, esbarrou em uma história do outro lado do Atlântico. 

“A minha conexão com o clube começa meio que por acaso. Eu fazendo uma pesquisa em maio de 94”.

Pesquisando aleatoriamente por fóruns na internet, esbarrou na curiosa e bonita história de como um clube de futebol da Baviera, um estado alemão, que resistiu e preservou sua identidade durante o regime nazista, que perseguiram pessoas ligadas ao mesmo.   

“Alguns presidentes do Bayern de Munique foram perseguidos por serem judeus. Inclusive, alguns chegaram a ser enviados para campos de concentração. Teve um presidente que enterrou nossos troféus para que não fossem entregues à Alemanha Nazista como espólio de guerra”.

Cativado pela história, João começou a acompanhar o Bayern. Na época, os jogos do Campeonato Alemão eram transmitidos pela TV Cultura, da qual ele lembra muito e ainda relata a inspiração em Gerd Wenzel, jornalista brasileiro que foi um dos grandes responsáveis pela chegada do futebol alemão ao Brasil.

  Anárquico, formador e com uma base forte. Assim ele resume o gigante da Baviera. O grito tradicional da torcida é repetido como um lema para João: “Mia San Mia” - que significa “Nós somos nós”. Aquele que não se rende à qualquer modernidade e que não busca agradar apenas para se encaixar.

Os anos foram passando, e João se orgulha em dizer que perdeu pouquíssimos jogos do clube. As ruas de Munique vibravam com cada gol, cada defesa, cada título —  e essa emoção reverberava por  muitos quilômetros. São 8.392 quilômetros que o separa da Baviera, o que ele trata com extrema naturalidade:

“Pode ser do outro lado do oceano, lá em Munique, lá na Baviera. É aquela coisa, é amar de longe, respeitar as tradições de longe. É ficar bravo quando acho que o time tem que investir mais, quando ele precisa investir [..], amar de longe é assim mesmo, é lidar com o que é calejado. É uma coisa constante, né? Que a gente fica se alimentando via transmissões. Eu não perco nenhum jogo do Bayern”.

A tecnologia não conseguiu proporcionar o gosto de ver, ao vivo, os principais ídolos do passado, que ele teve que conhecer por meio de histórias e recordes. Mas a história recente do clube está quase na ponta da língua, assim como seus ídolos: Neuer e Thomas Muller. O exemplo da lealdade e da gratificação conquista o respeito e a admiração, mesmo a quilômetros de distância. Os dois ídolos estiveram presentes em um dos momentos mais felizes de João como torcedor do clube alemão: 

“A minha melhor memória com Bayern de Munique foi quando o Bayern de Munique ganha a Champions League do maior rival doméstico, o Borussia Dortmund, com jogador que anos antes foi escorraçado pela imprensa e por uma parte da torcida”.

Aquela tarde de 25 de maio de 2013 é muito bem lembrada com nitidez por ele. A equipe bávara estava aflita por ter, no ano anterior, perdido o título em casa para a equipe inglesa do Chelsea. A redenção vinda para ele e para o ponta holandês Arjen Robben teve uma sensação indescritível de vitória. E João Neto vibrou. 

Foi naquele Wembley lotado e ele fez o gol da Vitória em cima do nosso maior rival. E sendo uma Redenção para ele, para mim é minha maior emoção, minha maior referência se tratando de Bayern de Munique”.

Nas alegrias e nas tristezas, João Neto não abandona o vermelho da Baviera. E garante: a distância pouco importa. Ele segue firme — e continua sem perder nenhuma partida:

“O exercício de amar de longe é uma doce rotina. Espero, um dia, estar lá assistindo a um jogo em Munique, se Deus quiser”.


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Produzido pelos acadêmicos do 5º período do curso de Jornalismo do Centro Universitário FAG, na disciplina de Webjornalismo, sob orientação do professor Alcemar Araújo.

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