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Foto do escritorRubia Inomata

Bonito (MS): uma história de amor à primeira vista

De turista à guia de turismo, Marina Abrão David encontrou a beleza da vida em meio à natureza bonitense 

Entre tantos lugares visitados, Marina encontrou em Bonito o destino não apenas das suas férias, mas também o destino de sua vida | Foto: Arquivo Pessoal

Dia 19 de julho de 2022. Era o último dia de passeio de quatro amigos na viagem dos sonhos, no cartão-postal do estado do Mato Grosso do Sul: a cidade de Bonito. O carro, um utilitário branco, escondia as suas cores sob uma grossa camada de terra e poeira, revelando os mais de 670 quilômetros percorridos de Cascavel, no Oeste do Paraná, rumo à cidade turística. Com o porta-malas cheio de bagagens, o carro atravessava a rotatória - o marco que recepciona os visitantes de Bonito. Para os quatro viajantes, aquele era o ponto de despedida.

Olhando pela janela, enquanto a cidade se afastava no horizonte, Marina Abrão David buscava guardar todos os detalhes da paisagem em suas memórias. A brisa úmida, que batia em seu rosto, foi como um abraço e, naquele instante, ela sentiu na pele o significado de pertencimento.

“Estou indo para Cascavel apenas para fazer as minhas malas. Eu vou voltar e morar aqui”, disse aos amigos.

A rotatória que abria os braços dando boas-vindas aos turistas, desta vez, seria um “adeus”. Ou melhor, um “até breve”.

Entre tantas viagens ao redor do mundo, Marina encontrou em solo brasileiro o destino não apenas para suas férias de julho. A despedida de Bonito foi o começo de grandes mudanças: de lar e de vida. A turista, que em 2022 apaixonou-se pelas paisagens naturais da região, hoje reside no cartão-postal sul-mato-grossense, guiando os visitantes em jornadas de descobertas e encantamento. De turista à guia de turismo, Marina vivencia diariamente as maravilhas da cidade que é bonita por natureza!


Marina David, Conrado Minucelli, Fernando Soares e Rafael Krupiniski viajaram de carro de Cascavel à Bonito | Foto: Arquivo Pessoal 


Marina: do mundo para o mundo

Até retornar a Bonito e tornar-se guia de turismo, Marina passou por mudanças que marcaram uma fase de descobertas sobre si mesma. Ao voltar para Cascavel, depois das férias de julho de 2022, ela seguiu os seus trabalhos na área de atendimento ao cliente. Na época, após anos de atuação como professora de idiomas em escolas, ela deixou a docência para explorar as possibilidades fora da sala de aula e também encontrar o seu propósito.

Um mês após a viagem, sentada no balcão e preparada para mais uma noite de expediente, surgiu um pensamento: “o que eu estou fazendo aqui?”. Ao olhar ao seu redor, procurou indícios do que a motivava a manter-se naquele emprego.

“Sentia-me infeliz na vida profissional e não conseguia me encontrar, mesmo sabendo que Cascavel é um bom lugar para se viver”, relata.

Enquanto refletia sobre a sua frustração, Marina lembrou de seu último passeio em Bonito, no qual terminou a visita perguntando ao guia de turismo: “como faço para trabalhar aqui?”. Ao recordar o momento, decidiu enviar seu currículo para uma empresa e, pouco tempo depois, chegou a tão aguardada resposta: “pode fazer as suas malas, a vaga é sua!”.

Assim como passou um mês após a viagem de férias para que ela desse o primeiro passo para concretizar o sonho de morar em Bonito, Marina recebeu o prazo de trinta dias para a mudança. Seriam trinta dias para empacotar, encaixotar, realizar os trâmites burocráticos e, o mais importante, despedir-se da família.

De malas prontas, Marina partiu rumo às paisagens que, anos atrás, eram como um sonho. E, naquele momento, estavam cada vez mais próximas de se tornarem seu próprio lar.


No dia 16 de setembro de 2022, Marina e sua família (irmã Ana Eliza, sobrinha Cecília e cunhado André) embarcaram para a mudança à Bonito | Foto: Arquivo Pessoal

A arte de encantar

“Desde pequena, Bonito foi a primeira cidade que guardei na memória como um lugar que tinha vontade de conhecer. Visitá-la em julho de 2022 foi tudo o que a ‘Marininha’ sempre sonhou”, descreve Marina ao recordar do desejo de explorar os pontos turísticos da região. O sonho surgiu quando tinha 10 anos de idade, nos anos 2000, ao ouvir de sua vizinha as histórias da viagem realizada à cidade. Com os ouvidos atentos e brilho nos olhos, a “Marininha” demonstrava o anseio de se aventurar pelo mundo e o gosto pela natureza. Hoje, com 34 anos, ela continua com a mesma alegria em seu olhar. Dessa vez, com o privilégio não só de ouvir histórias de turistas, mas também de contar suas próprias jornadas pelas maravilhas de Bonito.

Enquanto guia de turismo em um dos destinos brasileiros mais cobiçados pelos visitantes nacionais e internacionais, ela transforma o encantamento, que teve na sua infância e na sua primeira visita à cidade, em uma motivação para tornar o sonho de turistas em realidade.

“Minha função é fazer as pessoas felizes, ensiná-las e, acima de tudo, encantá-las”, reflete.

Muito mais do que um orientador ou acompanhante, o guia de turismo trabalha como um artista, conferindo cores e formas às paisagens e transformando cada vista em um verdadeiro espetáculo.

A experiência inesquecível, porém, é concretizada apenas através de um bom guiamento. “Eu busco ser o guia que eu gostaria de ter”, comenta. Para isso, Marina reúne as habilidades adquiridas em suas profissões anteriores: na área da educação e do atendimento ao público.


Seja em terra firme, ou pelos ares de Bonito (MS), Marina descobriu a beleza da vida nas aventuras pela natureza  | Foto: Arquivo Pessoal 


Uma sala de aula a céu aberto

Licenciada em Letras Português/Inglês, Marina dedicou mais de dez anos às salas de aula. Ao longo desse período, lecionou em escolas e cursos de idiomas para diferentes faixas etárias. Em todas as turmas pelas quais passou, havia um fator comum: a paixão por ensinar.

Para ela, ser professora é amar o saber e, principalmente, gostar de compartilhar conhecimento. Embora sua área de atuação fosse voltada às línguas estrangeiras, Marina não se restringia aos conteúdos de suas disciplinas. Sempre que possível, conversava com outros docentes, buscava informações e encontrava nas trivialidades do dia a dia curiosidades para o seu repertório. E foi essa sede pelo conhecimento que ressignificou seu conceito de “ensinar”.

Antes, as salas de aula se limitavam ao espaço físico das escolas, e as aulas seguiam os mais de duzentos dias letivos estabelecidos pelas instituições de ensino. Atualmente, para Marina, o ato de ensinar não se restringe às paredes das escolas. A profissão de guia de turismo provou que não existem fronteiras para o conhecimento. Hoje, suas salas de aula são a céu aberto, nas trilhas que cruzam os pontos turísticos de Bonito.

Percorrendo os mais variados passeios, ela busca incorporar sua didática para proporcionar experiências enriquecedoras aos visitantes. Por meio de informações que abrangem as áreas da biologia, geografia, geologia, história e conhecimentos gerais, Marina tornou-se uma “professora ao ar livre”, sem precisar de quadros, gizes, apostilas e carteiras. Todos os seus “materiais” encontram-se à sua volta, em meio às árvores, rios, cachoeiras e grutas.


De turista à guia de turismo, os encantos de trabalhar e morar em meio à natureza |  Foto: Arquivo Pessoal


Assim como o mar…

Constantemente, Marina é questionada pelos turistas sobre o seu trabalho. “Você está aqui todos os dias?”, indagam, na dúvida se os guias de turismo ativam o “piloto automático”. Em resposta, ela diz com bom humor: “Sim! Você viu que meu escritório é diferente, cercado de natureza?”. Para ela, não existe a expressão “cair na rotina” em seu vocabulário, pois, diariamente está em busca de algo novo.

“É fascinante viver aqui e todos os dias encontrar algo diferente. Morar aqui nunca cai na rotina. Eu sempre peço à Deus para que não permita que eu me acostume com todos os encantos daqui”, descreve.

Nas suas “salas de aula a céu aberto”, ela desfruta das belezas da natureza, com aquela pontada de saudade de casa. Em Cascavel, município onde morava, está sua família que todos os dias mantém contato. De um lado do celular, sua sobrinha de três anos,  Cecília, diz: “Vamos para lá ver a tia Mah”. Do outro lado, a mais de 670 quilômetros, Marina sente a súbita vontade de retornar, mas sabe que seu lugar, neste momento, é em meio à natureza bonitense. 

Bonito foi um divisor de águas da menina Marina. Nós a levamos até lá. Quando a deixamos, o sentimento foi de orgulho, porque ela estava indo para um lugar desconhecido, sozinha e sem medo. Um lado queria dizer: ‘volta, arrume as malas e volte’. Mas, o meu lado racional dizia para esperar. Ela passou por isso de uma forma linda, forte e corajosa. Meus pais estariam orgulhosos da Marina que ela se tornou”, relata Ana Eliza Machado Abrão David, irmã de Marina.

Assim como o mar, Marina, a “cidadã do mundo”, se movimenta com as ondas, navegando no balançar das águas, em busca das belezas não apenas de Bonito, mas também da própria vida.


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15 commentaires


Adriana Marcon
Adriana Marcon
25 juin

Incrível, Rubia! Parabéns!

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Angelica Strapasson
Angelica Strapasson
25 juin

Excelente reportagem! Parabéns Rubia

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Ellen Ehlke Picussa
Ellen Ehlke Picussa
25 juin

😍😍😍😍😍😍😍

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Ellen Picussa
Ellen Picussa
25 juin

Eu sou apaixonada pelo jornalismo literário e pela escrita da Rubia. Que privilégio ler esse texto sensacional.

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Ellen  Picussa
Ellen Picussa
25 juin

Que reportagem maravilhosa! Já quero visitar Bonito e conhecer a Marina. <3

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